http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença: MGF: cenário lancinante

quarta-feira, abril 26, 2006

MGF: cenário lancinante


O processo de circuncisão ao qual a criança é submetida ocorre em condições sanitárias deploráveis, com a utilização de materiais artesanais não-esterilizados, como facas, lâminas, tesouras ou vidros. Médicos, parteiras, barbeiros ou parentes da criança extirpam os órgãos genitais, obliterando o sofrimento ao qual a vítima é exposta e as consequências psicofísicas resultantes.
Atentemos na seguinte descrição, retirada do livro Mulheres e Direitos Humanos, publicado pela Amnistia Internacional, que nos reporta para um contexto pungente e real de Mutilação Genital Feminina (MGF):

“A rapariguinha, completamente nua, é imobilizada na posição de sentada num banco baixo por, pelo menos, três mulheres. Uma delas com os braços, muito apertados, à volta do peito da criança; as outras duas mantêm abertas as pernas da criança à força de modo a abrirem bem a vulva. Os braços da criança são amarrados atrás das costas ou imobilizados por duas outras convidadas.
(…) Em seguida, a velha tira a lâmina e extirpa o clítoris. Segue-se a Infibulação: a operadora corta com a lâmina o lábio menor de cima para baixo e, em seguida, raspa a carne do interior do lábio grande. Esta ninfectomia e raspagem são repetidas do outro lado da vulva. A criança grita e contorce-se de dor, apesar da força exercida sobre ela para ficar sentada.
A operadora limpa o sangue das feridas e a mãe verifica o trabalho, por vezes, pondo lá o dedo. A intensidade da raspagem dos lábios grandes depende da habilidade “técnica” da operadora. A abertura que é deixada para a urina e para o sangue menstrual é minúscula.
Depois a operadora aplica uma pasta, assegura-se que a adesão dos lábios grandes fica feita através de um pico de acácia, que fura um lábio passando através deste para o outro. Desta maneira, introduz 3 ou 4 na vulva. Estes picos são depois mantidos nesta posição com uma linha de coser ou com crina de cavalo. Volta-se a pôr pasta na ferida. Mas tudo isto, não é suficiente para garantir a união dos lábios maiores; por isso, a rapariguinha é então atada a partir da pélvis até aos pés: faixas de tecido enroladas com uma corda imobilizam completamente as pernas. Exausta, a menina é depois vestida e deitada numa cama. A operação dura de 15 a 20 minutos, segundo a habilidade da velha e a resistência que a criança oferecer”.

Perante uma prática de dimensões incomensuráveis como a MGF, entidades reconhecidas como a Organização Mundial de Saúde (OMS), Amnistia Internacional (AI) ou Concelho Internacional de Enfermeiros (ICN) reúnem esforços para a sua erradicação definitiva. No entanto, todas as iniciativas e projectos desenvolvidos parecem ser insuficientes; o problema prevalece com término indeterminado, regozijando os que a promovem e frustrando os que a repudiam.
Neste momento de reflexão e de alguma lucidez, interrogo-me: a MGF dissipar-se-á algum dia?
Fica a pergunta e a ânsia de uma resposta breve.
Anabela Santos

3 Comments:

Blogger Rui Rocha said...

Essa é uma questão relativa a povos específicos. Tal como o uso da "burka" isso é para nós (claro que ainda mais) ignóbil, mas temos que ver que são actos que reportam a uma cultura específica. Ainda assim, penso que é absolutamente o melhor a fazer erradicar tais práticas, pelo bem dos próprios visados, ainda que isso venha mexer com a sua própria identidade cultural, a qual deveria ser melhor entendida e acompanhada.
Continuem!

22:21  
Anonymous Anónimo said...

Devemos unir esforços para lutar contra a MGF e outras injustiças/desigualdades que coloquem em risco a saúde física, emocional e espiritual de qualquer ser humano. Este é um problema bastante complexo e difícil de resolver. Resulta de tradições e crenças inerentes à própria cultura e embora a nós, ocidentais, nos pareça um acto condenável e aberrante, para os outros povos é um prática comum e "normal". Como mudar as crenças e hábitos destas pessoas? as suas atitudes assentam na ignorância e/ou desconhecimento? acredito que a MGF acabará por ser erradicada mas não na nossa geração. A primeira etapa, deverá estar, na minha opinião, numa formação educacional destes povos.

15:38  
Anonymous Anónimo said...

Espeluznante es la única palabra que se me ocurre. En España se descubrió que algunos inmigrantes aprovechaban viajes a sus países para someter a sus hijas a este horror. Se ha hecho un protocolo de seguimiento de las niñas y si ocurre algo, la familia es expulsada de España. No sé si habrá sido eficaz esta medida. En los países de origen se debería hacer campañas intensas de educación y de erradicación. Es también la responsabilidad de los países occidentales que esto siga ocurriendo. No es cultura, es barbarie, uno de los últimos extremos de la violencia estructural contra las mujeres.

09:10  

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