http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença: Prostituição no masculino:

segunda-feira, maio 15, 2006

Prostituição no masculino:

Lisbon Lover: Acompanhante da Mudança

“Nós vivemos na idade média, somos esmagadoramente pequeninos e provincianos.”

C.F tem 36 anos é de Lisboa, tem uma licenciatura e duas profissões uma a tempo inteiro relacionada com o Ambiente, e ainda é fotógrafo freelancer.
Assume-se como acompanhante desde do mês de Junho de 2005 como “Lisbon Lover” e reivindica a diferença entre acompanhante e prostituto. Afirma que pratica esta actividade por prazer e não por necessidade financeira, sendo para ele um pequeno extra.
Sylvie: Como ocorreu a escolha desta actividade?
C.F: Ocorreu-me porque adoro Sexo e especialmente se tem a adrenalina de uma aventura entre quase estranhos, que se soltam mais do que com conhecidos. Adoro o Sexo em si, em todas as suas vertentes e nuances e porque me apercebi que, para ter aventuras sexuais, sem qualquer compromisso e sem passar pela longa fase de travar conhecimento e ganhar confiança (pelo menos das minhas experiências anteriores em conhecimentos mais liberais pela Internet em Portugal), da minha experiência, a única forma de assegurar muitas e desenraizadas aventuras seria esta.

Sylvie: Os teus amigos ou familiares conhecem a tua actividade?
C.F: Apenas três amigos de muita confiança e duas amigas nas mesmas condições.

Sylvie: Definiste-te como acompanhante, o que significa isso para ti?
C.F: Significa que, para além do simples acto sexual final, procuro cultivar e assegurar toda uma série de detalhes, ou digamos antes, um contexto: de cumplicidade, conversa, forma de estar e ambiente de sedução, que podem culminar, após criativos preliminares, no acto verdadeiramente sexual... Pelo menos faço por isso.

Sylvie: Quais são os benefícios desta actividade? É rentável?
C.F: Não, não é rentável, porque tenho clientes esporadicamente. Apenas cobro porque é a única forma de uma Mulher Portuguesa, pelo menos é o que concluo da minha experiência de vida relativamente rica, encarar e aceder a uma aventura sexual sem compromissos emocionais, antes e depois.

Sylvie: Por quanto tempo pensas manter esta actividade?
C.F: Indefinidamente, nunca penso nisso, se um dia me der na cabeça, por qualquer razão que seja, como não é uma necessidade, paro. Mas por agora estou a adorar e nunca tive problemas com ninguém, antes pelo contrário, existindo clientes que se foram tornando relativamente regulares.

Sylvie: Qual é o perfil das tuas clientes, por isso entendo idade, estrato social?
C.F: Há de todos os tipos, mas se a ideia é generalizar, são claramente dominantes as idades entre os 30 e os 45 e o extracto socio-económico médio-alto. No entanto, o facto de eu poder aceitar ou recusar clientes, querendo ver primeiro as suas fotos e até tomar antes um café, pode inibir clientes com idades mais elevadas, que normalmente recorrem aos acompanhantes em geral (menos exigentes) e eventualmente temerão uma recusa da minha parte, por se sentirem inseguras em relação ao rácio idade-aspecto.

Sylvie: O que pensas que elas procuram?
C.F: O que não encontram em casa, raramente uma Mulher separa o sexo, e aqui entenda-se o sexo em todas as suas dimensões (olhar, tocar, confessar, seduzir, fazer amor) do aspecto emocional. A procura de um acompanhante envolve sempre o criar de uma certa confiança e principalmente cumplicidade. É a aventura da sedução e da conquista, uma vez que não há uma abordagem na rua e se vai meia hora para uma pensão. Antes, conversa-se, provoca-se, seduz-se, avança-se e libertamo-nos, realizando, sem receios de julgamentos pelo círculo social habitual, todas as fantasias que se guardam e refreiam normalmente. É como viver um filme, completamente diferente do habitual, embora apenas por uma tarde ou noite, é serem Mulheres desejadas e contempladas com Prazer e Agrado, salvaguardando a parte posterior de relação, ciúmes, compromissos, julgamento por terceiros, etc. é como uma pequena vida dupla secreta.

Sylvie: Qual a diferença para ti entre acompanhante e prostituto?
C.F: O Acompanhante recria um ambiente e age num contexto de sedução, cumplicidade e prazer mais genuínos, sem pressas nem horários estritamente definidos. No meu caso, acrescente-se o facto de eu me reservar sempre o direito a aceder ou não à cliente em questão. O prostituto satisfaz uma necessidade física momentânea, estando mais preocupado em receber o seu sem exceder o timming disponibilizado, nunca se dando ao luxo de escolher a cliente, podendo mesmo fazer enormes fretes.

Sylvie: Consideras que acompanhante pode ser considerado uma profissão?
C.F: Claro. Tudo o que se realiza para obter dinheiro numa base regular e num período preponderante da duração de um dia, com objectivos, método, regras, organização, avaliação, reajustamento, etc., é considerado uma profissão, especialmente porque se realiza uma transacção mútua de bens e/ou serviços, com acordo e vontade de ambas as partes envolvidas.

Sylvie: Aprovas a legalização da prostituição? Porquê?
C.F: Claro, em primeiro lugar porque do ponto de vista da restante sociedade e dos cliente, nada lhes é imposto, só recorre à prostituição quem o deseja. Em segundo lugar, a prostituição legalizada iria reforçar o facto de as/os prostitutos a realizarem em muito melhores condições de segurança e saúde (para eles/as e os/as clientes), evitando progressivamente situações de exploração pelo proxenetismo ou o drama da satisfação do vício da droga.

Sylvie: Como pensas que o tema é tratado em Portugal? Achas que existe muito preconceito?
C.F: Nós vivemos na idade média, somos esmagadoramente pequeninos e provincianos. Se noutros assuntos menos polémicos já o demonstramos claramente, o que fará no que envolve Sexo. Em suma, não há seriedade nem uma reflexão com frontalidade e maturidade sobre o assunto.
Sylvie Oliveira

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Actualmente, no trabalho sexual ou erótico de interior começa a surgir e a projectar-se uma nova actividade: o de acompanhante.
No que concerne aos motivos da prevalência, não há muitas diferenças em relação aos restantes "trabalhadores" do sexo de interior: ganhar dinheiro é a principal razão. Todavia, no que respeita ao processo de prostituição, há diferenças assinaláveis: "acompanha" a cliente, não só a nível sexual, mas também afectivo. A relação cliente-prostituto não é tão mecânica.

Gostei da entrevista:)

19:59  
Blogger Pilar M Clares said...

Me llama la atención de esta entrevista por qué los hombres que se prostituyen con frecuencia dicen adorar el sexo. En el caso de las mujeres generalmente es cuestión de supervivencia.

Otra cuestión: ¿acompañar o vender una imagen junto a? ¿acompañar o llevar al lado un simulacro de afecto? Curioso.

Muy interesantes tus entrevistas, Anabela. Besos desde España.

20:53  

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