http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença: A UMAR e o(s) feminismo(s): parte II

sábado, janeiro 13, 2007

A UMAR e o(s) feminismo(s): parte II

[Continuação da entrevista à vice-presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Maria José Magalhães.]
2. Desde a sua génese à actualidade, os movimentos feministas nunca conseguiram recolher um respeito unânime do público. Que motivos justificam o descrédito que lhe foi e é endereçado?
M.J.Magalhães:Eu não falaria em descrédito desta forma tão generalizada. Penso que o feminismo teve e tem tido momentos em que tem sido mais desacreditado e outros em que tem sido valorizado. Tal como qualquer outro movimento social; podemos pensar, por exemplo, no movimento das classes trabalhadoras e não podemos dizer que ele esteja agora muito credibilizado, ou que tenha sempre recebido a credibilização pública. Por exemplo, no caso português, o feminismo atravessou um momento muito importante na 1ª República em que granjeou o reconhecimento de muita gente — evidentemente não de pessoas que depois estiveram na base do golpe de estado do “Estado Novo” e que depois apoiaram o regime salazarento. As organizações feministas que continuaram durante o Estado Novo foram alvo de perseguições e foram proibidas (a Associação de Propaganda Feminista, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, a Associação Feminina Para a Paz, entre outras).
Efectivamente, um movimento social e uma ideologia que propõem a alteração de uma ordem social que aparentemente assenta numa desigualdade “natural”, não podem, de forma imediata, obter o crédito do público. Só com a desconstrução progressiva dessa “naturalização” podemos conseguir que as pessoas credibilizem uma perspectiva de mudança social que parece querer colocar o mundo às avessas.
No entanto, penso poder afirmar que atravessamos mais um momento histórico em que podemos vir a reganhar algum do crédito público em relação ao nosso movimento. E a prova está, entre muitas outras coisas, no facto de algumas feministas assumidas serem mulheres de grande prestígio, serem ouvidas com respeito pela própria comunicação social e, mais importante ainda, que algumas das nossas reivindicações que eram consideradas absurdas e inusitadas nos anos 1980 — como a violência doméstica, por exemplo, ou a paridade — estejam a obter o apoio de grande parte da população. Mas outras reivindicações há pelas quais ainda é preciso lutar com muito afinco e uma delas, o combate está aí à porta — o aborto a pedido da mulher.
Anabela Santos