A UMAR e o(s) feminismo(s): última parte
[Continuação da entrevista concedida ao 'O Mal da Indiferença' pela vice-presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Maria José Magalhães, em Dezembro de 2006]
6. "Democracia, sim, falocracia, não" foi um dos slogans mais sonantes na manifestação no Parque Eduardo VII, em 1975. Hoje, ainda faz sentido verbalizá-lo?
M.J.Magalhães: Faz sentido, sim. Ainda existe muita falocracia na sociedade, quer na portuguesa, quer em termos internacionais.
Se não, vejamos o caso da violência doméstica, do homicídio de mulheres pelos maridos, namorados, companheiros e ex-, os julgamentos de mulheres por aborto no nosso país, a mutilação genital feminina, a discriminação das operárias que se engravidarem são despedidas e toda a sociedade faz “vista grossa”.
O maior criticismo sobre as mulheres protagonistas políticas, a igreja católica que não deixa as mulheres serem ordenadas sacerdotes, as lésbicas a quem é retirada a guarda dos filhos em tribunal porque se assumiram, a violência entre casais de lésbicas que o juiz não considera violência doméstica, a rapariga que foi violada na praxe estudantil de Macedo de Cavaleiros e o presidente da instituição de ensino superior (Instituto Piaget) disse que isso não tinha importância.
Aquela mulher que foi encontrada presa a um tanque toda nua onde esteve durante uma semana e sobre quem o médico entrevistado na televisão disse que estava tudo bem, não havia problema nenhum, ela estava apenas um pouco desidratada. E aquela adolescente que entrou com uma mini-saia num escola em Oliveira de Azeméis e foi obrigada a ir mudar de roupa a casa e essa escola e outras têm no seu regulamento interno como devem as raparigas ir vestidas para a escola (em algumas escolas, não podem ir de sandálias no Verão).
E aquelas situações em que a operária vai substituir um operário numa cadeia de montagem e passa a ganhar menos do que ele ganhava, e aquela que faz o mesmo tipo de trabalho e o patrão escreve o nome de outra categoria profissional para lhe pagar menos. E aquele colectivo sindical que faz as reuniões à noite quando algumas dirigentes vivem sozinhas e têm filhos pequenos. E aquele partido que retira uma mulher de algum protagonismo porque é feia, ou gorda. E aquele catedrático que convida para chefe de gabinete uma jovem investigadora, ultrapassando as doutoradas, porque ela é mais sexy.
Anabela Santos
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