http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença: "A lei do mais forte!"

domingo, julho 29, 2007

"A lei do mais forte!"

Voluntárias da sua consciência, muitas mulheres portuguesas abordam hospitais públicos, no nosso país, para que ,os mesmos, respondam à interrupção de uma gravidez indesejada. No entanto, alguns especialistas na área da saúde, porque se consideram “objectores da boa consciência e da boa moral” cruzam os braços a uma prática consentida em referendo, esquecendo-se que a ética profissional é um convénio entre a consciência individual e o meio social envolvente. Isto é, a responsabilidade de um médico não se limita à autonomia da sua consciência, mas ao enquadramento claro que consagra o direito dos ógãos humanos e sociais.
A ética orienta a vida de cada Homem em Sociedade e não propriamente a vida do Homem no próprio Homem. Na realidade, muitas destas mulheres não têm possibilidades económicas acrescidas e se lhes for negada esta prática desejada, elas poder-se-ão socorrer das malhas da ilegalidade, aumentando, drasticamente, o número de abortos clandestinos. Não faz sentido algum, médicos advogarem que muitas das mulheres que recorreram aos hospitais públicos serem licenciadas, pertencendo a classes sociais médias altas ou mesmo altas, implicando mais conhecimentos e mais possibilidades económicas para abordarem clínicas privadas, contudo independentemente da profissão, da situação na profissão, dos conhecimentos ou capitais sejam sociais, culturais ou económicos; todas são mulheres e todas têm o pleno direito ao aborto.
A democracia representativa nem sempre é nítida, mas a fragilidade humana torna-se maior quando cada Homem-médico não age de uma maneira universal, respondendo, de uma maneira incongruente, à incorporação de costumes que resultam de hábitos, muitas vezes conduzidos pela “religião”. No meu ver, comparo esta situação a um fechar de portas à cura de um problema seja biológico, seja moral, seja social.
Resta-me reinterpretar o código médico e aconselhar estes especialistas a reverem a sua noção de “bioética”. Aqui fica uma proposta: A bioética preocupa-se não apenas com o médico, mas essencialmente com a pessoa humana, com a sua dignidade e com a liberdade que a pessoa tem de dispôr de si própria. Assim, a bioética consagra o príncipio da autonomia individual no seio das sociedades democráticas. O respeito da dignidade feminina, o respeito pela liberdade feminina são, de facto, faculdades reflexivas da bioética.


Ana Ferreira