http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença: outubro 2007

terça-feira, outubro 30, 2007

Cavalheirismo medíocre?

O Shopping 8ª Avenida de São João da Madeira entregou-se à inovação!
Com o propósito de ajudar as incapazes condutoras portuguesas, o centro comercial criou lugares de estacionamento próprios para mulheres. Mais largos do que os normais (cerca de um metro), têm uma largura superior aos que são reservados aos cidadãos com deficiência, que necessitam de mais espaço para a utilização de cadeiras de rodas.
Num parque com 1400 lugares, os que são destinados às mulheres encontram-se junto dos espaços reservados a grávidas e a mulheres com crianças, famílias numerosas e a pessoas com deficiência, assinalados a cor-de-rosa (conforme a cartilha sexista).
Preocupado com a segurança das suas clientes, o dito Shopping reserva-lhes ainda uma outra regalia: os lugares exclusivos para as mulheres estão mais próximos da entrada do centro comercial de modo a auxiliá-las em caso de excesso de compras (porque só as mulheres vão às compras!) e conferir-lhes mais segurança (porque só elas são vítimas de assaltos!).
Gentileza”. É, precisamente, com este substantivo que a Direcção do Shopping 8ª Avenida justifica a cedência de lugares a mulheres. Perdoem-me a discordância, mas no meu léxico encontro um vocábulo muito mais curial: Estupidez!
Mas a ridicularia não fica por aqui! No Shopping de São João da Madeira, copioso em originalidade (leia-se imbecilidade), os WC’s masculinos ostentam, por detrás dos urinóis, uma estante em vidro onde estão inúmeros manequins vestidos e em poses sensuais. Permitam-me a pertinência, mas qual é o objectivo desta vez? Trata-se, novamente, de uma questão de “gentileza”?!
Não obstante a pobreza do episódio, devo confessar que saí enriquecida a nível lexical. Fiquei a saber que o substantivo “gentileza” pode significar estupidez, imbecilidade, discriminação, cavalheirismo medíocre (ups, desculpem-me a redundância!).

Etiquetas: ,

segunda-feira, outubro 29, 2007

“Forma desumana de trabalho: a exploração infantil”


Crianças com menos de dez anos são submetidas, em todo o mundo, a longas horas de trabalho explorado e como tal não saboreiam nem vivenciam as brincadeiras de outras crianças, pois se, assim, mostrarem pretensões para tal são, antes de mais, alvo de ameaças e de maus-tratos.

Na Índia, estas crianças são humilhadas e vêem negado o seu direito à existência humana na medida em que são constantemente usadas como mão-de-obra barata, explorada e precária. De facto, a produção de camisas “Gap Kid” provém deste grupo menosprezado e tem aumentado drasticamente, apesar dos esforços reunidos para a interdição do trabalho infantil. No entanto, tal como constatava Emerson, “um problema sem solução é um problema mal colocado”.

Em Portugal, este fenómeno é considerado como uma ofensa grave que deve ser punido severamente, na medida em que vai contra a integridade de uma criança. A legislação condena este comportamento repressivo (artigo 152 do Código Penal Português) considerando-o como crime, porque engloba práticas de maus-tratos a menores e actividades de trabalho “perigosas, desumanas, proibidas ou em excesso”.

Todavia, muitas leis portuguesas cumprem apenas a “arte do espectáculo”, enquanto que os problemas sociais não cessam de aumentar. E que tal cooperar?!


Ana Ferreira

domingo, outubro 28, 2007

Qual é o sabor do chocolate?

Antes de iniciar a leitura deste texto, desembrulhe uma tablete de chocolate. Já está? Agora, saboreie. Saboreie mais um pouco. Qual é o sabor do chocolate? Doce? Muito doce? Na verdade, o chocolate pode ter um sabor amargo, mesmo muito amargo. Porquê? Eis um possível (e infeliz) motivo: o fabrico de chocolate pode resultar da exploração de milhares de crianças. Muitos dos sumptuosos invólucros de chocolate ocultam as mais abjectas estratégias capitalistas que, pautadas apenas pelos cifrões, recusam máximas como o respeito pelo ser humano, em qualquer estádio da sua existência.
Grande parte do chocolate produzido mundialmente provém das plantações de cacau de Cote D’Ivoire (África), para onde cerca de 12 mil crianças são traficadas. Por outras palavras, são vendidas, espancadas, subnutridas, sujeitas a inumanas condições de trabalho. O chocolate tem, agora, um outro sabor, não acha? Parece-lhe intragável?
Com o propósito de erradicar este execrável fenómeno, a plataforma “Stop the Traffik” exige às companhias produtoras de chocolate a colocação de um certificado -'Traffik Free Guarantee'- nas embalagens que assegure um fabrico sem correlação com o tráfico humano.

Etiquetas:

sábado, outubro 27, 2007

"Na luta do género: pelo racismo e pelo sexismo"

A sociedade e a cultura em que cada um está inserido, desde sempre, permitiram compreender os diferentes papéis de género, apesar de incutirem valores e fundamentos universais de direitos de cidadania, de livre opção religiosa e sexual. No entanto, num elenco de conquitas e desafios sociais, o sexismo continua a ser o traço mais forte da cultura, a nível mundial, levando para além do mais, à desigualdade social, segmentando a sociedade em classes por aspectos económicos, sociais e culturais.

Na realidade, o facto de cada agente social nascer do sexo masculino ou do sexo feminino isto significa, de antemão, que os papéis definidos para o primeiro sexo surgem em detrimento do segundo. Ou seja, as mulheres porque nasceram do sexo feminino têm menos direitos de livre participação na cidadania, menos poder político e menos liberdade. Assim, desde sempre o género feminino nunca sofreu uma profunda mutação em termos societais dada a universal perda de direitos e de qualificação laboral, humana e social, categorizando-o como o género inferior, numa escala de medida e opinião. Neste sentido, surgem novas formas de “racismo” como um processso de construção sintomático que caracteriza a “neurose cultural” de uma sociedade que estigmatiza, submete e marginaliza o género feminino. Ora, esta desregularidade de género, ao possibilitar o desenvolvimento do sexismo, produz efeitos violentos sobre a mulher em geral e a mulher negra, em particular. Assim, as relações raciais de género focadas na mulher consideram que a mesma, enquanto agente social, é atingida, directamente, pelo racismo e pelo sexismo, no plano de consciência social, fazendo com que o lugar que ocupa seja definido como duplamente aprisionado.

Tendecialmente, esta realidade descreve-se pela mancha desfasada de relações de desigual poder e livre acesso aos direitos fundamentais de ambos os géneros. Desta forma, entende-se, por bem, operacionalizar, conceptualmente, algumas variáveis que sustentam novas formas de desenvolvimento de “racismo”:

Estereótipo: este conceito diferencia-se do conceito de racismo, apesar de se complementar com o último num quadro teórico argumentado. Ora, na perspectiva de Shestakov o estereótipo define-se como “uma tendência à padronização, com a eliminação das qualidades individuais e das diferenças; com a ausência total do espírito crítico nas opiniões sustentadas”.

Misoginia: antipatia, aversão enferma às mulheres. Neste sentido, “se no sistema a diferença é negada e, finalmente, homens e mulheres vêem a sua individualidade cindida nas representações do masculino e do feminino, que gerações após gerações de homens e mulheres sob o domínio patriarcal viram a sua individualidade negada, desrespeitada, cerceada, isso não significa, em absoluto, que do ponto de vista histórico tal processo seja simétrico. É precisamente na assimetria das relações como relações de poder que o sistema de géneros se constitui e na medida em que o feminino representou sempre o outro, a diferença - é essa a fonte de toda a misoginia - é lícito, parece-nos, identificar às representações historicamente ligadas ao feminino - ou parte delas - a luta pela diferença enquanto tal” (in “Teses pelo fim do Sistema de Géneros” - Ilana Amaral)

(...)

Convém ressaltar que o racismo nem sempre ocorre de forma explícita. Além disso, existem casos em que a praxis social é sustentada por formas satíricas “camufladas” que agravam o fenómeno do sexismo e do racismo, afectando, de uma forma particular, a construção desigual de género.
Ana Ferreira

sexta-feira, outubro 26, 2007

MTV na luta contra o Tráfico Humano

APAV SOS Helpline: 707 20 00 77
Linha SOS IMIGRANTE
Tel: 808 257 257 (a partir da rede fixa)
Tel: 21 810 61 91 (a partir de rede móvel)

Etiquetas:

terça-feira, outubro 23, 2007

Julieta Gandra: "a transgressora, feminista e anticolonialista"

Julieta Gandra viveu 90 anos de ousadia. Desafiou regras, desafiou convenções, desafiou poderes. Foi uma referência para gerações de jovens de esquerda. Viveu a política com alegria e convicção e por uma causa: Angola
"Olhe! Em vez de estar aí parado ajude-me a carregar os embrulhos!" Sem dar tempo para ao pide, que lhe vigiava a casa, reagir, Julieta Gandra despejou os muitos pacotes com que chegara ao nº 7 da Ilha do Príncipe, em Lisboa, e obrigou assim o agente da polícia política a subir até ao 4º-B, carregando as suas compras em silêncio. Esta história desconcertante é recordada, entre sorrisos, por Diana Andringa, que, na segunda metade dos anos 60, morava no 5º-A e que conviveu com Julieta Gandra, médica, oposicionista, militante feminista e anticolonialista e, sobretudo, transgressora, falecida a 8 de Outubro, em Lisboa, com 90 anos.Nascida a 16 de Setembro de 1917, em Oliveira de Azeméis, Maria Julieta Guimarães Gandra era filha de Aurora e Mário Gandra, solicitador e pequeno comerciante, e tinha três irmãos, Fernanda, mais velha e ainda viva, Ângela, e Hernâni, arquitecto que militou no PCP. Julieta cursou medicina, em Lisboa, onde conheceu Ernesto Cochat Osório, oposicionista e poeta, natural de Angola. Depois de casados e de ter nascido, em 1944, o seu filho Miguel (que não quis colaborar neste trabalho), rumam de barco a Luanda. Julieta é então especialista em medicina tropical. Irá interessar-se por obstetrícia e ginecologia e será ela a introdutora do parto sem dor em Angola. Médica das jovens brancas da elite de Luanda, dá também consulta a mulheres pobres, brancas e pretas.Em Luanda, priva com intelectuais não afectos ao regime e frequenta o Cine-Clube e a Sociedade Cultural de Angola. O que fora uma aproximação à oposição na faculdade torna-se ligação ao PCP em Angola. (Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal, III vol. pp. 517-526). Em meados dos anos 50, participa na formação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Vem de então a sua amizade com Agostinho Neto, Lúcio Lara, Paulo Jorge e Arménio Santos.Durante a década e meia que vive em Angola, viaja. Vem a Lisboa. E, em 1958, depois de visitar, em Bruxelas, a exposição mundial, ruma à União Soviética. De regresso a Luanda, passa por Paris e Lisboa e, a sua sobrinha Ana Rita Gandra Gonçalves, ainda hoje se lembra das discrições de um espectáculo de Ives Montand e os discos de Léo Ferré que distribui pelos mais novos.
Ler na íntegra: AQUI

Etiquetas: , ,

segunda-feira, outubro 22, 2007

“Ciberfeminismo: uma conquista feminina”


“Esta é uma história sobre mãos invisíveis.
Isto é uma história sobre o trabalho sem fim.
Esta é uma história sobre o trabalho das mulheres por manutenção e sobrevivência.
Esta é uma história sobre o trabalho de corpo da mulher na invisível economia feminina de produto e reprodução.
Esta é uma história sobre a repetição, o tédio, o exausto, a coação, a derrubada.
Esta é uma história sobre o peso, da repetição, a tensão do trabalho manual na velocidade das máquinas eletrônicas.”

O ciberfeminismo, entendido como uma praxis pós-feminista, vê-se como uma rede de um complexo território tecnológico e político. O mundo tecnológico foi, desde sempre, um domínio tradicionalmente masculino. De facto, a partir do dualismo clássico que fundamenta o pensamento e a construção social ocidental surge a ideia de que a mulher está associada ao instinto, à natureza e desta forma ao espaço privado da vida; enquanto que o homem à inteligência, à cultura, e portanto ao público.

No entanto, desde o século XIX, com a entrada maciça da mulher no mercado de trabalho, a dualidade acima referida entrou em conflito e em contradição, dada a sua ambivalência, não apenas no âmbito laboral, mas em dimensões mais abrangentes como a política, social e a cultural.
Assim, o feminismo tem demonstrado que a conquista do trabalho assalariado destorceu o mito criado pela feminilidade e em grande parte pelos fundamentos do patriarcado, fazendo com que as mulheres se tornassem seres mais activos, independentes e produtores, para além de reprodutores, apesar desta conquista não se manifestar de forma tão evidente. Desta forma, alguns feminismos têm levado adiante algumas das suas estratégias, incidindo numa alteração geral dos valores que sustentam as relações patriarcais ou de dominação masculina.

De todo o modo, o ciberfeminismo desenvolveu-se na base das mesmas apirações ou fontes, pois a entrada da mulher no mercado de trabalho ao exigir a conquista da palavra para uma circulação pública feminina, permitiu, também, o estabelecimento de uma rede de comunicação entre as mulheres. O meio social para além de possibilitar o desenvolvimento do discurso feminino e feminista, criou uma alternativa contracultural: os pensamentos feministas podem ser dicutidos de uma forma não institucional, por meio de um sistema que dissolve, desta forma, os papéis e as identidades convencionais incutidas ao género.

Na realidade, o ciberfeminismo lançou uma esfera de optimismo entre as mulheres, transformando-o num espaço e num território de desenvolvimento e manifestação sociocultural, simultaneamente.
Ana Ferreira

quinta-feira, outubro 18, 2007

"Dia Internacional da Vítima de Tráfico e de Exploração Humana"


O dia 18 de Outubro de 2007 assinala o Dia Internacional contra o Tráfico e Exploração Humana.

O tráfico de seres humanos é uma realidade das mais aviltantes do ser humano.
De facto, representa uma nova forma e uma das formas mais violentas da escravatura humana, colocando em causa os princípios que norteiam a dignidade humana. De facto, este crime é organizado e discriminatório, agravavando o fosso assimétrico entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Esta realidade deixou de ser há muito um requisito elementar transfronteiriço, passando a ser punido, da mesma forma, o tráfico interno. De acordo com a revisão do Estado de Direito sobre o Código Penal, este crime co-responsabiliza, juridicamente, pessoas colectivas que estejam directamente relacionadas com o agravamento do crime, para além de responsabilizar individualmente quem pratique o crime.

“O I Plano Nacional contra o Tráfico de Seres Humanos (2007-2010), entrou em vigor a partir do dia 23 de Junho do corrente ano, assumindo, como prioritário e estratégico, a implementação de uma abordagem e resposta holística de combate efectivo a esta realidade. Seguindo a evolução mais recente ao nível da abordagem internacional, contempla não só as situações de tráfico para fins de exploração sexual, bem como as situações de tráfico para fins de exploração laboral.”

Este Plano aponta estrategicamente para quatro áreas de intervenção:

1) Conhecer e disseminar informação;
2) Prevenir, sensibilizar e formar;
3) Proteger, apoiar e integrar;
4) Investigar criminalmente e reprimir o tráfico.

Portugal não tinha, até ao ano de 2007, qualquer estudo acerca da realidade nacional do tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, tendo o primeiro estudo o cunho de um Centro de Investigação Português. Este projecto, tem como principais linhas de orientação:

a) conceber e propor medidas legislativas que implementem ou actualizem dispositivos legais adequados;
b) melhorar as competências do/as diversos/as agentes de intervenção sobre o fenómeno;
c) promover a cooperação entre os diversos agentes de intervenção quer a uma escala nacional quer internacional;
d) promover um acolhimento qualificado e a integração social das mulheres vítimas de tráfico;
e) implementar um sistema de monitorização do fenómeno do tráfico de mulheres para exploração sexual promovendo a sua visibilidade.

Em suma, todos os anos à volta de 200 000 indivíduos são vítimas de tráfico humano no continente Europeu, na sua grande maioria os grupos mais vulneráveis, como é o caso de mulheres e de crianças-adolescentes, forçadas a entrar no mundo da prostituição.


Ana Ferreira

segunda-feira, outubro 15, 2007

As mães da floresta

Vivem os dias a caminho da cidade mais próxima. Quebram nozes, recolhem frutos, pescam, cultivam plantas medicinais, mandioca, acaí; usam café para aliviar as dores quando dão à luz cinco, oito, dez filhos sem o apoio de outros medicamentos; os seus corpos mostram os sinais de uma vida feita de cansaço, mas os seus rostos são os de jovens sorridentes. Mulheres da Amazónia.
História a conta-gotas. A vida nas dispersas comunidades da floresta amazónica não teve um começo fácil. Até ao início do colonialismo, os campos e as florestas do Brasil foram sujeitas à exploração e destruição; o seu povo escravizado, oprimido e dizimado. Quando, em 1985, Chico Mendes e os seus companheiros fundaram o Conselho Nacional dos Seringueiros, o seu projecto de uso sustentável dos recursos era inexequível, revolucionário e utópico. Chico Mendes morreu pelas suas ideias quatro anos depois, mas até hoje foram criadas mais de 90 reservas extractivistas e outras áreas protegidas a favor de uma utilização sustentável dos recursos. Reformas agrárias e uso colectivo das terras são parte da estratégia de desenvolvimento do território brasileiro. E, todavia, os representantes da comunidade da floresta amazónica continuam a temer pela vida da sua comunidade, já que os predadores da floresta e saqueadores ficam em liberdade apesar de os crimes que perpetram. Os habitantes da floresta amazónica que conseguiram realizar uma reserva reconhecida pela lei tiveram de enfrentar grandes dificuldades. Carência de transportes, de escolas, de postos médicos e meios de comunicação representam os maiores desafios para os habitantes das reservas extractivas.
Todo o peso. As mulheres trazem os sinais desta grave situação, não só porque as impede de proverem bem-estar à sua família, mas também porque são objecto de discriminação e abusos sexuais. Muitas mulheres morrem durante o parto devido à falta de medicamentos. Outras morrem com tumores no cólon sem nunca terem tido a possibilidade de receber algum tratamento médico. Isto acontece devido à ausência de cura ou porque os seus maridos impedem o seu tratamento, reivindicando o completo controlo sobre as suas vidas. Algumas são coagidas a ter relações sexuais com o marido mesmo quando estão próximas de dar à luz: o desejo do marido não tem restrições. Contudo, as coisas começaram a mudar em 2000, quando os representantes do Conselho Nacional dos Seringueiros lançaram o projecto – “O Património das mulheres da floresta”. Com poucos recursos, muita paciência e uma grande dose de energia e criatividade, estas mulheres começaram a esclarecer outras sobre problemas sanitários, a prevenção das DST e HIV e o modo de organização das tarefas familiares. Viajaram dias sem fim até alcançarem as comunidades mais longínquas. Nas cabanas de madeira, nas costas dos rios, à sombra das árvores e nas suas casas, reuniram famílias para discutir o corpo feminino, a saúde do aparelho reprodutor e o uso correcto dos contraceptivos. Através de jogos, utilizando a linguagem simples das comunidades da floresta, construíram pontos de discussão, destruíram barreiras e esclareceram homens e mulheres acerca da importância de correctas relações sexuais para uma vida familiar e comunitária feliz. Com cautela e paciência, obtiveram a confiança das comunidades e começaram a falar dos direitos das mulheres. Na floresta, nada se faz sem o aval dos homens, os quais foram convidados a participar em cada encontro para que as actividades das mulheres não suscitassem nos homens qualquer alarmismo.
O sucesso. Este projecto e o seu variegado material educativo estão agora registados num vídeo apresentado este ano, em Março. O grupo venceu o prémio ActionAid Pan-American Award e transformou-se num grande sucesso graças ao número de apoiantes. Agora, as mulheres da floresta amazónica deparam-se com um novo desafio: aquele que começou como um simples proposta está a tornar-se num verdadeiro programa. Neste momento, estão a tentar criar uma linha telefónica que disponibilize informações médicas aos habitantes da floresta amazónica em Pará, através do uso de telemóveis com o apoio de antenas rurais nas reservas que nunca foram beneficiadas com linhas de comunicação. “E isto é só o início”, assevera Fátima Cristina, coordenadora do projecto: “Aprendemos a ter confiança nas nossas potencialidades; podemos fazer tanto com tanto pouco. Agora, nada nos pode parar”.
Versão original: AQUI

sexta-feira, outubro 12, 2007

Ela uma vez - poesia em cena


Sinopse:
A parir de textos de Adélia Prado, Adília Lopes, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral, Elisa Lucinda, Natália Correia e Marina Colasanti, nasce um espectáculo teatral híbrido que se assume como uma fusão de elementos poéticos, plásticos e musicais.
Sendo um tributo às poetisas e à poesia em língua portuguesa, as diversas faces destas vozes femininas são cultivadas no diálogo de um processo criativo onde se cruzam também diferentes linguagens artísticas. Teatro, música, artes plásticas, vídeo e animação fundem-se e mesclam-se na busca de uma linguagem própria e de uma dramaturgia musical que privilegia a expressividade do corpo, do gesto e do movimento.
Os poemas, mais do que palavras, sugerem imagens, histórias, mundos imaginários, intimidades e utopias.
O espectáculo estrutura-se numa linha temporal que se divide em quatro grandes “idades da mulher”: a infância – o estrear da voz, os jogos, as sombras e a imaginação; a juventude – o despertar da sensualidade, o amor, a experimentação do feminino; a idade adulta – transformação, reflexão, a passagem do tempo; e a velhice – despojamento, morte e o desvanecer do corpo.

Preço Simples: 10 euros
Preço de Grupo: [> ou = 10 pessoas] 7 euros
Promoção “Elas em família – 3G”: três bilhetes pelo preço de dois para as famílias em que três gerações de mulheres (avó, mãe e filha) apareçam na bilheteira.

Bilhetes à venda no Mundial;
Em http://www.ticketline.sapo.pt/
Agencias Abreu; Agência Alvalade; Abep; FNAC; Plateia
Reservas pelo 213574089 (Mundial) ou 707 235 234 (Ticketline)
Próxima Estação _ proximaestacao@gmail.com

Espectáculo integrado no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos

O que se escreve?

"Legal or not, abortion rates similar", International Herald Tribune
A comprehensive global study of abortion has concluded that abortion rates are similar in countries where it is legal and those where it is not, suggesting that outlawing the procedure does little to deter women seeking it.
"Mortalité maternelle : elle ne recule pas assez vite, selon l'Unicef et l'OMS", Le Monde
La mortalité maternelle dans le monde ne recule pas assez vite pour atteindre les objectifs de l'ONU d'ici 2015, en particulier dans les pays en développement qui comptent pour 99 % des décès de mères, selon un rapport de l'Unicef et de l'Organisation Mondiale de la Santé publié vendredi 12 octobre. Sur les 536 000 décès en maternité en 2005, 533 000, soit 99 %, sont intervenus dans les pays en développement. La mortalité maternelle prend en compte le décès des femmes pendant leur grossesse ainsi que jusqu'à 42 jours après l'accouchement.
"Trenta punti per sperare", Peace Reporter
Trenta punti per sperare in un po' di protezione e in un futuro migliore. Il governo israeliano ha presentato oggi una bozza di legge contro lo sfruttamento e il traffico delle donne, per debellare il fenomeno dilagante delle ragazze ridotte in schiavitù.
En colaboración con Reporteros sin Fronteras y la organización China Human Rights Defenders, un experto chino perteneciente a una empresa del sector de Internet ha investigado y escrito, amparado en el anonimato, un informe exclusivo en el que detalla el sistema, creado por las autoridades chinas, de censura, vigilancia y propaganda de la Web.
Las protestas que llevaron a miles de monjes a las calles de Myanmar (la antigua Birmania) el pasado septiembre se cobraron ayer una nueva víctima. El activista Win Shue, de 42 años, detenido el pasado día 26, murió durante un interrogatorio a causa de las torturas que le aplicaron, según informó la Asociación para la Asistencia a los Presos Políticos (AAPP), con base en la vecina Tailandia. La Liga Nacional para la Democracia (LND), que lidera la premio Nobel de la Paz Aung San Suu Kyi y en la que militaba Win Shue, indicó que las autoridades comunicaron la muerte a la familia.

quinta-feira, outubro 11, 2007

8º Campo de Trabalho: "VAMOS DEFENDER OS DIREITOS"



Programa:


Quinta, 1 de Novembro

13h-14h30 – Chegada e Alojamento
15h00 – Sessão de abertura
15h45 – Apresentação do Campo
16h15 – Coffee Break
16h30 – A Amnistia Internacional – visão e missão
19h00 / 21h00 – Jantar
21h15 – Noite de Jogos

Sexta, 2 de Novembro

10h00 – Rede de Acção Jovem / Activismo Juvenil
11h15 – Coffee break
11h30 – “Guerra contra o Terrorismo ou contra os Direitos Humanos?”
12h30/14h00 – Almoço
14h15 – “Campanha Global pela Dignidade Humana” - 1ªparte
16h30 – Coffee break
16h45 – “Campanha Global pela Dignidade Humana”- 2ªparte
19h30 / 21h00 - Jantar
21h30 – “Make Some Noise for Human Rights!” – Festa dos Direitos Humanos

Sábado, 3 de Novembro

10h00 – “Pena de Morte – Justiça ou Crueldade?”
11h15 – Coffee break
11h30 - Pena de Morte – Justiça ou Crueldade? (2ªparte)
13h00/14h30 - Almoço
14h45 – “Discriminar Não é Humano!”
16h30 - Coffee break
16h45 –“Discriminar Não é Humano!” (2ªparte)
18h30 – Chill out time
19h30/21h00 – Jantar
21h30 – Peddy Paper nocturno (É necessário trazeres uma lanterna)

Domingo, 4 de Novembro

10h00 – Actividade Lúdica –Espaço para troca de impressões sobre o Campo
11h00 – Avaliação do Campo
12h30/14h00 – Almoço
14h00 – Despedidas

Nota: Este programa pode sofrer alterações a nível de horários e sessões.

Amnistia Internacional

Portugal



Existem 639 milhões de armas no mundo - uma arma para cada dez pessoas
Todos os anos morrem em média 500,000 pessoas vítimas de violência armada - uma pessoa por minuto!Apoie a implementação de um Tratado Internacional que regule o Comércio de Armas.
Seja um num Milhão: http://www.controlarms.org/

Doris Lessing takes Nobel prize

The Nobel Prize for Literature has been won this year by the British author, Doris Lessing. Lessing, who is only the 11th women to win literature's most prestigious prize in its 106-year history, is best known for her 1962 post-modern feminist masterpiece, The Golden Notebook.
Announcing the award, the Swedish academy described Lessing as an "epicist of the female experience, who with scepticism, fire and visionary power has subjected a divided civilisation to scrutiny". It singled out The Golden Notebook for praise, calling it "a pioneering work" that "belongs to the handful of books that informed the 20th century view of the male-female relationship."
Lessing's agent, Jonathan Clowes, said he was "absolutely delighted" at the news of the award, which was, he said, "very well-deserved".
Lessing's laureateship makes this the second time in three years that the award has gone to a British author, following Harold Pinter's honouring in 2005. The prize was awarded last year to the Turkish author Orhan Pamuk.
Fonte: Guardian

terça-feira, outubro 09, 2007

O feminismo morreu…


Esta afirmação vindo de uma pessoa que se assume há já alguns anos como feminista pode parecer estranha.
O feminismo morreu! Será que esta afirmação tem assim tão pouco sentido? Das várias opções posso destacar duas: ou já não existem feministas ou então todos os combates pelas quais os nossos antepassados lutaram foram conseguidos? Gostaria que fosse a segunda opção mas infelizmente por mais que goste da primeira parece-me mais adequada.
Sinto-me cansada de repetir, mas é verdade. NÃO, a mulher ainda não conseguiu a tão desejada igualdade.
Então fica a dúvida onde estão as feministas ou onde estão as mulheres? Infelizmente ser mulher não é sinónimo de ser feminista, pelo contrário.
Na verdade, na maioria dos países as mulheres têm direito à liberdade de expressão. Mas onde estão os discursos sobre a condição feminina? Pelo contrário, este direito é muitas vezes usado para denegrir o feminismo e a sua utilidade, é utilizado para reivindicar a falsa igualdade entre os sexos e para congratular a nossa condição de “mulheres modernas” que tem todos os direitos.
Sim, sinto-me cansada de ouvir as mesmas reflexões sobre o feminismo: “Já não faz sentido”, “já fui feminista mas deixei de ser”, “não, eu gosto de homens”, “não sou feminista, sou feminina”, ou a pior de todas “eu feminista, não, eu sou pela igualdade”.
Será preciso voltar a explicar o que é o feminismo? Será preciso citar as expectativas e as vitórias das feministas ao longo dos tempos?
Será preciso novas greves de fome à imagem de Emmeline Pankurst ou Emily Davison para que se volte a iniciar um debate sobre a condição feminina mundial?
Onde estão as novas Simone de Beauvoir ou Betty Friedman?
As necessidades e o tempo mudaram, mas a urgência desta luta continua. O que será preciso para que todas as mulheres e os homens, já me contentava com as mulheres, percebam que a igualdade de direitos e de tratamento entre os dois género é infelizmente ainda uma prioridade?
Sinto-me cansada, mas não vencida. Por isso, repito e repetirei incansavelmente a urgência de abrirmos os olhos não somente às situações revoltantes de outros países, mas também olharmos para dentro das nossas casas, para os nossos vizinhos e amigos. A desigualdade infelizmente ainda está presente em quase toda a parte.
Tivemos o privilégio, graças a todas as heroínas da nossa história, de estudar de aprender a falar e a escrever correctamente. Por isso, vamos denunciar, reivindicar, escrever para que nunca o feminismo, de facto, morra. Enquanto houver uma mulher que seja discriminada, violentada, segregada, humilhada, o feminismo não pode morrer e o feminismo não morrerá!
Sylvie Oliveira

Etiquetas: ,

"Associação Mãos Unidas"


Ajude-os a ajudar!
Hoje por eles, amanhã por si!

segunda-feira, outubro 08, 2007

Killer law

Last November it became a crime for a woman to have an abortion in Nicaragua, even if her life was in mortal danger. So far it has resulted in the death of at least 82 women. Rory Carroll reports on the fight to have the law changed.
María de Jesús González was a practical woman. A very poor single mother, the 28-year-old's home was a shack on a mountain near the town of Ocotal in Nicaragua. She made the best of it. The shack was spotless, the children scrubbed. She earned money by washing clothes in the river and making and selling tortillas.
That nowast quite enough to feed her four young children and her elderly mother, so every few months González caught a bus to Managua, the capital, and slaved for a week washing and ironing clothes. The pay was three times better, about £2.60 a day, and by staying with two aunts she cut her costs. She would return to her hamlet with a little nest-egg in her purse. She bought herself one treat - a pair of red shoes - but she would leave them with her family in Managua, as they were no good on the mountain trails she had to go up to get home.
During a visit to Managua in February she felt unwell and visited a hospital. The news was devastating. She was pregnant - and it was ectopic, meaning the foetus was growing outside the womb and not viable. The longer González remained pregnant, the greater the risk of rupture, haemorrhaging and death.
What González did next was - when you understand what life in Nicaragua is like these days - utterly rational. She walked out of the hospital, past the obstetrics and gynaecological ward, past the clinics and pharmacies lining the avenues, packed her bag, kissed her aunts goodbye, and caught a bus back to her village. She summoned two neighbouring women - traditional healers - and requested that they terminate the pregnancy in her shack. Without anaesthetic or proper instruments it was more akin to mutilation than surgery, but González insisted. The haemhorraging was intense, and the agony can only be imagined. It was in vain. Maria died. "We heard there was a lot of blood, a lot of pain," says Esperanza Zeledon, 52, one of the Managua aunts.
Ler na íntegra: AQUI

Etiquetas: ,

Rape has morphed from tool of war into societal epidemic in Congo

BUKAVU, Congo: Denis Mukwege, a Congolese gynecologist, cannot bear to listen to the stories his patients tell him anymore.
Every day, 10 new women and girls who have been raped show up at his hospital. Many have been so sadistically attacked, butchered by bayonets and assaulted with chunks of wood, that their reproductive and digestive systems are beyond repair.
"We don't know why these rapes are happening, but one thing is clear," said Mukwege, who works in South Kivu Province, the epicenter of Congo's rape epidemic. "They are done to destroy women."
Eastern Congo is going through another one of its convulsions of violence, and this time it seems that women are being systematically attacked on a scale never before seen here. According to the United Nations, 27,000 sexual assaults were reported in 2006 in South Kivu Province alone, and that may be just a fraction of the total number across the country.
"The sexual violence in Congo is the worst in the world," said John Holmes, the UN undersecretary general for humanitarian affairs."The sheer numbers, the wholesale brutality, the culture of impunity - it's appalling."
The days of chaos in Congo were supposed to be over.
Last year, this country of 66 million people held a historic election that cost $500 million and was intended to end Congo's wars and rebellions and its tradition of epically bad government. But the elections have not unified the country or significantly strengthened the government's hand to deal with renegade forces, many from outside the country.
The justice system and the military still barely function, and UN officials say government troops are among the worst offenders when it comes to rape. Large swaths of the country, especially in the east, remain authority-free zones where civilians are at the mercy of heavily armed groups who have made warfare a livelihood and survive by raiding villages and abducting women for ransom.
According to victims, one of the newest groups to emerge is called the Rastas, a mysterious gang of dreadlocked fugitives who live deep in the forest, wear shiny track suits and Los Angeles Lakers jerseys and are notorious for burning babies, kidnapping women and literally chopping up anybody who gets in their way.
Leia na íntegra AQUI

Etiquetas: ,

domingo, outubro 07, 2007

Marcas e reflexos...


Mulher. Divorciada depois de onze anos de tortura. Vítima de maus-tratos físicos e psicológicos por parte do seu marido, desde a primeira semana do casamento. Desempregada neste momento, mas não perdeu o sonho de ter um futuro melhor e de enveredar pelo ensino superior. O marido sempre a considerou uma incompetente, mostrando-lhe que ela não era capaz de fazer algo por si, por isso perdeu a esperança e a auto-estima. Entregou-se a uma vida destruída pelos sonhos de menina e a única recordação boa que guarda dos momentos de criança foi o facto de ter crescido numa família feliz. Desde muito nova foi incentivada à partilha e à igual distribuição das tarefas no espaço doméstico, mas o casamento trouxe o amargo sabor da “desunião”, da distribuição diferenciada das tarefas domésticas e da submissão a que estava sujeita diariamente. Depois de cada acto de violência, o marido tinha como hábito fechá-la dentro do quarto, para a tortura ser ainda maior. Esta é a história partilhada de uma mulher vítima de violência doméstica entre muitas outras.

Vejamos algumas das suas principais revelações:

1. Sempre foi vítima de maus tratos na sua família, após o casamento?
“Sim, vítima de agressões. Ele batia-me. Logo na primeira semana de casamento fui vítima de maus-tratos. Tentei impedir e sair de casa, só que por causa de ditos não fiz vergonhas. Os outros diziam que agora a minha vida era outra; que não podia ligar nada ao que muitos me aconselhavam e que agora tinha que obedecer era ao meu marido. Mas sempre pensei “mas eu não casei para ser o saco de boxe de ninguém”. Desde que comecei a namorar para ele, vivi na ilusão que ele era uma pessoa espectacular e uma pessoa que me vai fazer tudo na vida...E afinal não foi nada daquilo. Começou, logo, no inicio a mostrar tudo ao contrário. (...) Repare que verbalmente e psicologicamente ficava desgastada... Se ele dizia que “um pau era uma pedra, eu também dizia que era uma pedra”.


2. O meio familiar e o meio social em que estava inserida aceitaram de ânimo leve o facto de ser vítima de crime de violência?
"De ânimo leve não digo que aceitaram, porque me diziam que ele não parecia ser quem realmente demonstrou ser. Mas sempre fiquei na esperança que ele ia mudar e foi por isso que eu aguentei tanto drama. (...) Ninguém sabe quem vive debaixo do tecto é que sabe. (...) Omiti esta situação durante muito tempo e dei-lhe muitas oportunidades, mas ele nunca mudou."


3. Durante o namoro nunca teve sinais do seu comportamento desviante?
"Agora que eu olho para trás, nunca senti indícios de que ele era violento, violento talvez não, mas super ciumento era. (...) Já há muitos anos que olhava para ele e cada vez que olhava para ele parece que tinha uma borboleta no estômago ou aquela sensação de estar super apaixonada e passava-lhe tudo ao lado. (...) Agora olhando para trás, eu acho que ele estava a fazer pouco de mim."


4. O seu marido contribuia nas tarefas domésticas?
"Era eu. Ele não fazia nada. (...) “Tu sabes que eu não gosto de fazer isto, tu sabes que eu não gosto de fazer aquilo”. Mas não, não chegava à agressão, ele chegava a ignorar-me. Eu a pedir-lhe para ele me ajudar e ele dizia-me “tu é que és a mulher da casa, faz tu as coisas, isto não são coisas para homens”.


5. O que é que pensa sobre a violência doméstica?
"Sinto gana a quem o faça, porque acho que isso é diminuir a outra pessoa o máximo e o homem acaba por sentir-se maior e acaba por não ser assim. Ele acaba por adquirir a pior personalidade, a pior estatura. Acho quem o faz devia ser punido severamente."


6. Pensa que há uma relação entre a violência doméstica e o exercício do poder no interior da família?
"Eu acho que é por o marido sentir-se diminuido por a mulher ter mais estudos, pelo facto da mulher ter outra postura e ele como não a tem quer-se sentir superior a ela e é só assim que consegue, por ser o homem, o macho da casa."



"Eu não casei para ser o saco de boxe de ninguém"




Ana Ferreira

sábado, outubro 06, 2007

“O casamento é para a mulher um estado de escravidão”

Incontornável feminista do século XIX, Lucy Stone recusou a adopção do sobrenome do marido aquando do seu casamento e tornou-se na primeira norte-americana a manter o seu maiden name.
Nascendo num berço que apenas reconhecia a autoridade do patriarca, Lucy Stone pugnou arduamente para se instruir e para se fazer ouvir. Contornou todos os obstáculos que o patriarcado lhe impôs, sem, porém, conseguir conter os seus impulsos revoltosos. Na ‘Mística Feminina’, Betty Friedan conta-nos que Lucy “revoltou-se quando erguia seguidamente a mão nas reuniões paroquiais e o seu voto não era contado”. Mas nada, nada foi suficiente para a dissuadir de “lutar não só pelos escravos, como por toda a humanidade sofredora, e especialmente pela exaltação do seu próprio sexo”.
Começou por praticar os seus discursos nos bosques, de um modo discreto, para conter tentativas de silenciamento e outras repreensões do patriarcado. A obstinação levou a sufragista a discursar sobre a abolição do sistema esclavagista e a apologizar os direitos das mulheres, “enfrentando e dominando homens que a ameaçavam com cacetes, que lançavam contra ela ovos e livros de oração”.
Considerando que “o casamento é para a mulher um estado de escravidão” – asserção que recolhe a anuência da minha pessoa! –, Lucy Stone enamorou-se de Henry Blackwell e ambos contraíram matrimónio. Todavia, Stone rejeitou o sobrenome do seu marido, mantendo o seu apelido de solteira. Lucy e Henry não se casaram sem antes estabelecerem, por escrito, um acordo que rompia com a subordinação feminina/hegemonia masculina que a lei vigente aplaudia:
"Depois de reconhecer a nossa mútua afeição assumindo publicamente a relação de marido e mulher... consideramos um dever declarar que este acto não implica, de nossa parte, em nenhuma sanção ou promessa de obediência voluntária às actuais leis do casamento, que não reconhecem a esposa como um ser independente e racional e conferem ao marido uma superioridade injuriosa e contra a natureza".
Embora a sua história e percurso no feminismo se tenham desenvolvido no século XIX, a questão da adopção do sobrenome do marido pela mulher aquando do casamento mantém-se discutível. Na França e nos países anglo-saxónicos, é frequente a mulher abdicar do seu ‘maiden name’ e adoptar o sobrenome do marido. Porém, há cada vez mais mulheres a acrescentarem o apelido do cônjuge, sem renunciar ao seu sobrenome de solteira. Em Portugal, a mulher não tem de prescindir do seu sobrenome, podendo acrescentar o do marido se assim o desejar. O homem também tem essa possibilidade, embora sejam poucos a adoptar o sobrenome da esposa.
Pessoalmente, não compreendo a necessidade de alguém adoptar o sobrenome do cônjuge aquando do casamento. O apelido é insubstituível, inocultável, insubmergível e inalienável (transmissível somente à descendência!). Renunciar, acrescentar o do cônjuge é defraudar a identidade individual.



Etiquetas:

sexta-feira, outubro 05, 2007

“Riscriviamo il Futuro”

A educação é o pilar fundamental para a edificação de sociedades mais justas e equitativas; é a mola que impulsiona os países para o desenvolvimento e permite consecuções como a paridade de género e a optimização da assistência médica materno-infantil.
Não obstante o facto de ser um direito consagrado na Declaração Universal dos Direitos da Criança, a possibilidade de frequentar a escola é apenas um privilégio de alguns. De acordo com o relatório da organização ‘Save the Children’, “Scuola, ultima della lista”, “metade da população mundial que não frequenta a escola – cerca de 39 milhões de crianças – vive nos países em conflito”.
“Milhões de crianças enfrentam o futuro sem esperança. Porque a guerra destrói as escolas, mata os professores, produz populações de refugiados e exércitos de crianças soldado”. Por isso, o desafio da ‘Save the Children’ consiste em rescrever o futuro de milhões de crianças cujas vidas são comprometidas pela guerra e seus corolários. A organização visa garantir a instrução de 8 milhões de crianças em 20 países até 2010, bem como pressionar os governantes mundiais a aumentarem os donativos em prol da educação destas crianças.
Passa por AQUI!
Anabela Santos

quinta-feira, outubro 04, 2007

"Brutality in Congo" e em todo o lado!

Discriminadas, reprimidas, silenciadas, indesejadas, coisificadas, negligenciadas, coagidas, vendidas, espancadas, apedrejadas, violadas, mutiladas, queimadas, assassinadas, ...

É isto que as sociedades do século XXI oferecerem à MULHER?

Video retirado de: International Herald Tribune