“ Não te deixes dominar pela tua mulher para que não usurpe a tua autoridade e fiques humilhado.” (Eclesiástico, “Bíblia Sagrada”)
“A mulher não tem poder sobre o próprio corpo, mas sim o marido.” (Carta de S. Paulo)
“A mulher casada cuida das coisas deste e de como há-de agradar ao marido.” (Carta de S. Paulo)
“Que as mulheres sejam submissas a seus maridos como ao Senhor, pois o marido é a cabeça da mulher como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo, do qual Ele é salvador. E como a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos seus maridos.” (Carta aos Efésios)
“Assim os maridos devem amar as suas mulheres como os seus próprios corpos”. (Carta aos Efésios)
“Era assim que outrora se adornavam as santas mulheres que esperavam em Deus, eram submissas a seus maridos como Sara que obedecia a Abraão, chamando-o seu Senhor.” (1ª carta de S. Pedro)
“O homem deve amar a mulher com juízo e não com paixão!”
“…em relação à própria [à mulher] o amor é vergonhoso, em relação à outra é excessivo.”
Atentando em algumas paráfrases ou citações destacadas no livro da boca sagrada e da mente espiritual, considero que o sobrenatural existe em tudo: na religião, mas também na atitude extra mundana que categoriza e representa ilegitimamente a mulher pelo domínio, pela submissão, pela exploração, não apenas sexual, mas muito mais ainda, social no sentido da diferenciação e do uso da mulher como uma simples propriedade pública. Ora, alguns arquétipos traçam eixos simbólicos de irregularidade: ao homem o seco, à mulher o húmido; ao homem o exterior, à mulher o interior; à mulher a natureza, ao homem a agressão natural. Isto é, o homem justifica-se pela racionalidade e a mulher pela emotividade. No entanto, algumas vozes da consciência analítica advogam que por o homem perder a capacidade do lado afectivo, isto traduz-se, impreterivelmente, numa perda e não num ganho, apesar da persistência redutora da sociedade em considerar que “um homem não chora”. Assim, desde logo homens e mulheres demarcam-se pelo estado de fortaleza do homem versus estado de fragilidade e de anemia da mulher: a mulher tem a função expressiva e de reprodução e o homem a função instrumental, de “ganha-pão”. Nesta linha de pensamento, verifica-se que a condição humana terrena deriva dos contraditórios ensinamentos religiosos que só poderá ser domesticada e combatida aliando massas e vozes com sentido. Portanto, prima-se uma situação criada e mantida muito mais por motivações ideológicas do que religiosas, mas como religião e ideologia sempre caminharam juntas, a injustiça permanece até hoje, embora revestidas por uma cobertura "politicamente correcta". Um dado importante é o de que a ideologia deu primazia ao masculino e reservou à mulher posições de menor destaque e participação na sociedade que antecedeu a escritura dos textos sagrados que fundamentam as religiões monoteístas. Assim, inicialmente a cultura foi transmitida ao livro sagrado e, posteriormente, o texto, que marcou a cultura e os costumes das sociedades monoteístas, acabou por reforçar, desigualitariamente, a posição masculina de destaque. Isto traduz-se, neste sentido, no reflexo da inadequação e da tradição societais. Ora, o ministério feminino dos tempos apostólicos criaram o seguinte sistema de politicas de “falso” género: no judaísmo não era permitido que as mulheres estudassem as leis de Moisés; alguns sábios judeus asseveravam que mais valia a pena queimar a lei do que ensiná-la a uma mulher e a posição da mulher no judaísmo era mais inferior que a do homem e, portanto, alguns rabinos chegavam ao extremo de pensar que as mulheres não tinham alma. Neste sentido, “Se os homens, se a cultura e a tradição impõem limites à missão feminina, o Espírito de Deus agirá de forma silenciosa, como agiu com as nossas mulheres bíblicas. Se as mãos dos homens, ao escreverem a Bíblia, deixaram-se levar pelo costume e pela tradição que dava precedência ao masculino, Deus reservou para si o espaço branco, para falar no silêncio àqueles ou àquelas que se põem a meditar em cada uma das palavras, em cada facto, em cada acontecimento da história humana.”Justeza Social? Crença na igualdade com base na obediência?! Não creio, nem encontro justiça.
Emerge, então, um estado de pânico moral, isto é, um estado de “violência-anomia” que resulta da proliferação das relações agressivas em sectores desregulados da Sociedade. Num duplo sentido: a igreja enfraqueceu a regulação da balança de género com o desenvolvimento do crime disfuncional de género (conjuntura de submissão).
Desta forma, há no fundo uma espécie de violência sacrificial que passa, em primeira instância, pela implementação do sacrifício feminino, na medida em que se trata de uma politica, ironicamente.
Ana Ferreira (anarafaelaferreira@gmail.com)