http://www.makepovertyhistory.org O Mal da Indiferença

quinta-feira, janeiro 31, 2008

'O Mal da Indiferença': novo espaço!


Após três anos a participar no blogger, O Mal da Indiferença’ decidiu mudar de registo, passando, agora, a integrar a wordpress. A mudança comporta ainda novos propósitos: conferir maior dinamismo, alargar a agenda temática e fomentar a colaboração dos cibernautas.
A partir de agora, ‘O Mal da Indiferença’ passa a residir AQUI.
Visita-nos!

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Campanha pela eliminação da fístula

A fístula consiste num orifício que liga a vagina à bexiga, causado por um parto demasiadamente demorado sem intervenção médica imediata, como uma cesariana. A ausência de uma resposta médica eficiente revela corolários pungentes: a incontinência crónica da parturiente e, na maior parte dos casos, a morte do seu bebé recém-nascido.
A optimização do sistema de saúde na Europa e na América Latina provocou o seu desaparecimento nestas áreas geográficas há mais de cem anos. Contudo, constitui ainda um problema agudo no continente africano, asiático e no Médio Oriente.
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) está a promover, desde 2003, uma campanha mundial para a eliminação da fístula que atinge, actualmente, mais de dois milhões de mulheres nos países em desenvolvimento.
Erradicação da fístula até 2015:
A eliminação da fístula a nível mundial depende da “vontade política e de uma colaboração mais intensa entre os Governos, grupos comunitários, ONGs e profissionais da saúde” e erige-se em três fases: prevenção, tratamento e reintegração.
· Prevenção:
A erradicação da fístula passa indubitavelmente pela prevenção. Acesso a cuidados de saúde eficientes durante a gravidez, promoção de uma maternidade segura, bem como a autonomização feminina e o banimento de desigualdades sociais e económicas são passos cruciais.
· Tratamento e reintegração:
A fístula é reversível na maior parte dos casos por meio de uma simples intervenção cirúrgica, aliada à prestação de apoio afectivo, económico e social. A campanha está a investir na formação de profissionais, na modernização dos equipamentos e dos centros de tratamento.
Anabela Santos

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domingo, janeiro 13, 2008

‘Entre a sombra e o naufrágio'


‘Quanto menos nos sentirmos limitados, mais qualquer limitação parece insuportável’
(Durkheim)
Em todo o mundo, os problemas sociais produzem-se e reproduzem-se, sem término. Quando transformados em problemáticas sociais, os mesmos, ganham contornos sisudos, sérios e ameaçadores. Os cenários multiplicam-se e somam-se vivências tenebrosas, enigmáticas e ocultas a todo o corpo colectivo.
Torna-se difícil abstrairmo-nos da acção colectiva contraditória que combina alguns princípios da sua identidade: sintomaticamente depressiva – leia-se psicopática e sociopática. Se no primeiro caso, as disfunções psíquicas, neuróticas e emocionais são uma consequência da destabilização relacional intra e intergrupal, no segundo caso os desvios comportamentais e os procedimentos ilimitados de foro colectivo dão corpo à ‘anomia social’, ou seja, ao desenquadramento normativo, valorativo e simbólico, dado o não ordenamento e ajustamento dos diferentes órgãos sociais, à condição de integração social. Com efeito, a condição de existência reprova todo o actor social (aquele que vive inserido numa espécie de ‘teatralização da vida quotidiana’, pelo desempenho múltiplo de um conjunto de papéis ou funções – ‘todos nós’) que se rende à crise social e ao desmoronamento do seu papel integrador na sociedade, podendo conduzi-lo a práticas comportamentais de egoísmo, suicídio, auto-mutilação ou inquietação interior, conhecida por ‘esgotamento cerebral ou depressão neurótica’.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Suicídiologia (SPS) suicidam-se, anualmente, cerca de 600 pessoas, em Portugal e à volta de 24000 desencadeiam pseudo-comportamentos suicidas, surgindo, neste último caso, a necessidade de atendimento médico. Afinal, ‘o que é se entende por suicídio?’. Na óptica sociológica, não é possível falar de um único tipo de suicídio, pelo que a análise, em torno deste problema público, se entende ‘multifactorial’. Diversos teóricos e analistas apontam que o suicídio pode surgir na sequência de uma oculta e exacerbada individuação, não havendo em cada um dos elementos um código normativo fixo, pelo que a autoridade moral lhes é indiferente; outros estudiosos apontam como principal causa para o suicídio o facto do indíviduo não encontrar em si mesmo qualquer tipo de limites e a sociedade não ser capaz de constituir um poder de dominação das carências individuais. No primeiro caso, falamos de ‘suicídio egoísta’, já no segundo de ‘suicídio anómico’ (Durkheim).
Por conseguinte, o risco de cada um dos indivíduos despertar em si uma ‘rebelião’ interior é cada vez mais provável, dada a complexa sintomatologia, em torno deste problema social: perturbações de humor, ansiedade, inibição, quebra no rendimento intelectual, reduzida actividade física ou intelectual e pensamentos auto-destrutivos.
Neste sentido, uma sociedade composta por um conjunto de elementos desorganizados constitui uma verdadeira ‘monstruosidade social’, devido ao predomínio de um aparelho social desactualizado e atrofiado seja na mente humana, seja em corpo social.


Ana Ferreira

Simone de Beauvoir: A HOMENAGEM


O movimento Chiennes de Garde protestou na passada sexta feira contra a capa do jornal “Nouvel Observateur” que apresentava Simone de Beauvoir nua. A filósofa, que no passado dia 9 teria festejado o seu centenário, aparecia na capa sem roupa com um título sugestivo: “A escandalosa”. Para os membros da associação trata-se de um medida sexista pois tal coisa nunca foi feita a autores masculinos, na manifestação reclamavam fotos de nudez de figuras conhecidas como Sartre, Jean Daniel…

Para Florence Montreynaud fundadora do movimento, “protestam contra a utilização do corpo de Simone de Beauvoir para celebrar o seu pensamento. Achamos isso sexista.”

O semanário assume a escolha e recusaram dar um pedido de desculpa. Em resposta ao protesto referiam “não eram nem sexista, nem machistas e nunca queriam ter dado uma imagem de degradação da mulher, nem de Simone de Beauvoir.

O movimento Chiennes de Garde é um movimento feminista Francês contra o sexismo que as mulheres são vítimas nos médias e no espaço público em geral. A missão é de lutar contra a violência sexista e contra os estereótipos sexista e promover a igualdade. A escolha do nome para melhor prende se com o termo inglês as Watchdog. A frase delas: “ Dirigir um insulto sexista a uma mulher pública, é insultar todas as mulheres”.

É verdade infelizmente nem Simone de Beauvoir escapou. Essa foi a homenagem prestada a esta grande mulher, essa foi a imagem que se retirou de uma vida de luta pelos direitos das mulheres. Claro que não é nada sexista, todas as homenagens a escritores são feitos assim. Claro que não é nada machista, todas as homenagens aos homens são feitas com fotografias de nus. Claro que não é desrespeito, todas as homenagens a defuntos são realizada desta forma.

É mais do que sexista, é lamentável, é mais do que degradante é escandaloso, é mais do que desrespeito é intolerável.
Sylvie Oliveira

sexta-feira, janeiro 11, 2008

HUB: nova ferramenta pelos Direitos Humanos

Tecnologia, destreza e vontade de agir em defesa dos Direitos Humanos. São precisamente estes componentes que subjazem à criação da HUB, uma plataforma online que disponibiliza materiais audiovisuais – vídeo, áudio e imagem – sobre um tema comum: Direitos Humanos.

Projecto da WITNESS, a HUB é um espaço acessível a qualquer pessoa, onde se pode visionar e partilhar vídeos, opinar e actuar em defesa de direitos políticos, civis, sociais, económicos e culturais. ‘Através da HUB, organizações, redes e grupos do mundo inteiro podem fazer com que as suas campanhas e histórias sobre direitos humanos despertem a atenção e o interesse a nível global’.

Para conhecer melhor a HUB, passa por AQUI!

Anabela Santos

Anabelamoreirasantos@sapo.pt

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quarta-feira, janeiro 09, 2008

Simone de Beauvoir: "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher"

Em 1976, numa entrevista, Beauvoir dizia que as mudanças pelas quais lutara não se realizariam durante a sua vida. "Talvez daqui a quatro gerações." Que importância tem hoje 'O Segundo Sexo'? Cem anos depois do seu nascimento, a França ainda se comove com ela
Publicado em 1949, tinha Simone de Beauvoir 41 anos, 'O Segundo Sexo' viria a ser considerado uma marca fundamental no pensamento feminista do século XX, abrindo caminhos para a teorização em torno das desigualdades construídas em função das diferenças entre os sexos. Composto por dois volumes (Factos e Mitos e A experiência vivida), o livro debate a situação da mulher, do ponto de vista biológico, sociológico e psicanalítico, inaugurando problemáticas relativas às instâncias de poder na sociedade contemporânea e às diferentes formas (tantas vezes conflituais) de dominação. Reflectindo, pois, sobre as razões históricas e os mitos que fundaram a sociedade patriarcal e a sustentam e que trataram a mulher como um "segundo sexo", silenciando-a e relegando-a para um lugar de subalternidade, Beauvoir irá apontar soluções que visam à igualdade entre os seres humanos.
Fonte de inspiração para autoras como Betty Friedan, que lhe dedicou o seu já clássico 'The Feminine Mystique' (1963), 'O Segundo Sexo' antecipa, de forma admirável, o feminismo da chamada "segunda vaga", que surgiria quase três décadas depois, com o movimento de libertação das mulheres a desenvolver-se, no final dos anos 60, a par de outros movimentos sociais de contestação, de carácter transnacional - as lutas pelos direitos cívicos, os movimentos estudantis, as preocupações ecossistémicas, a reivindicação, por parte das minorias, de uma voz e de um lugar que fosse seu. "A disputa durará enquanto os homens e as mulheres não se reconhecerem como semelhantes, isto é, enquanto se perpetuar a feminilidade como tal", escrevia Beauvoir. Entendendo "feminilidade" como uma construção, a teorização de Beauvoir é levada a cabo a partir da dupla edificação deste conceito dentro do paradigma patriarcal - o "feminino" como essência e o "feminino" como código de regras comportamentais.Sexo e géneroAntecipando os movimentos feministas, Beauvoir antecipa ainda aquela que viria a ser uma das pedras de toque teóricas para os estudos feministas de raiz anglo-americana: a apropriação da palavra "género", para significar a construção social de uma diferença orientada em função da biologia, por oposição a "sexo", que designaria somente a componente biológica. É a partir da frase já célebre de O Segundo Sexo "On ne naît pas femme, on le devient" ("Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres"), que teóricas feministas como Joan Scott irão, nos anos 80, reflectir sobre o estabelecimento da diferença entre "sexo" e género ("diferença sexual socialmente construída"), desafiando e questionando a noção de que a biologia é determinante para os papéis atribuídos às mulheres e de que existe uma "essência feminina". Assim, dentro de um quadro conceptual feminista, a questão proposta por Beauvoir é crucial, visto denunciar o carácter eminentemente artificial da categoria "mulher": um ser humano do sexo feminino "não nasce mulher", antes "se torna mulher", através da aprendizagem e repetição de gestos, posturas e expressões que lhe são transmitidos ao longo da vida. Só por isto se teria O Segundo Sexo mantido actual. Surpreendente é que novas teorias, como a teoria queer, surgida há pouco mais de uma década, emergente dos estudos feministas e devedora dos estudos gay e lésbicos, revisitem Beauvoir e a sua célebre frase. Tendo como um dos seus nomes mais marcantes Judith Butler, a teoria queer assume-se como emancipatória, ao defender que as identidades são criadas pela repetição de certos actos culturalmente inscritos no corpo. Reagindo às políticas de identidade, que haviam sido, nas décadas de 70 e 80, fulcrais para o sucesso das políticas de inclusão social, Judith Butler, e o seus Gender Trouble (1990) e Undoing Gender (2004), partem desse "On ne naît pas femme, on le devient", de Beauvoir, para acentuar a ideia de que a identidade é fluida e instável e de que "género" é um conjunto de actos performativos. Neste caso, em lugar de se ler "Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres", poderia ler-se "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher", ou seja, todos e todas nós aprendemos a construir identidades a partir de modelos aparentemente matriciais, que se foram depois cristalizando, mas que são, eles próprios, simulacros. A ênfase é, pois, colocada na transformação - que, podendo ser limitação, pode igualmente expandir-se para gesto de liberdade.Em 1976, numa entrevista, Simone de Beauvoir dizia que as mudanças pelas quais lutara não se realizariam durante a sua vida. "Talvez daqui a quatro gerações", acrescentava. Para esta jovem teoria, a lição de Beauvoir coloca-se também num "devir", esse devenir de que, há quase 50 anos, ela falava. Jovem, outra vez, neste ano que celebra o centenário do seu nascimento.
Ana Luísa Amaral
Escritora, e professora de Literatura Anglo-Americana e de Estudos Feministas na Faculdade de Letras do Porto

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domingo, janeiro 06, 2008

'Um jogo sujo, mas jamais despercebido!'

Quando ouvimos falar em violência, fazemos, na maioria das vezes, correlação com o tipo de violência física e psíquica e raramente nos ocorre a agressão de cariz emocional, embora muitos de nós estejamos sujeitos à mencionada, ainda que de uma forma inconsciente. Mas, afinal, ‘O que é a violência emocional?’ – eis a questão de partida.
É sabido que nas relações amorosas, a probabilidade de ocorrência de qualquer tipo de violência é mais elevada que em outra espécie de relacionamento. Assim, a agressão emocional descreve-se pelas frequentes situações de rejeição, humilhação, manipulação, depreciação, discriminação, exclusão e sanção da vítima de ‘violência intrafamiliar’. Embora, este tipo de agressão não deixe marcas visíveis de agressão no corpo, carimba, indubitavelmente, a psiqué humana da vítima.
O agressor tenta, comumente, desencadear modos de acção desequilibrados, embora de uma forma ‘camuflada’ para criar um estado de satisfação, delicadeza e carinho consigo mesmo, movendo os elementos que o rodeiam em seu auxílio, ao mostrar indícios de qualquer tipo de doença que o esteja ou não a afectar ou problema semelhante, exigindo, dos outros, tolerância, respeito e um procedimento peculiar na forma como é abordado.
Para além disso, muitos agressores manipulam, emocionalmente, os agentes sociais que com ele estabelecem relações, fazendo com que estes o façam sentir culpado, inferiorizado, dependente e culpabilizado! Um jogo sujo, mas jamais despercebido!
Efectivamente, o agressor sente-se bem e em perfeito equilíbrio quando, na realidade, a vítima se sente discriminada, humilhada, excluída! É comum este tipo de agressão ocorrer entre pais e filhos, maridos e esposas, amigos e parentes conhecidos e não apenas, partir da mulher, em direcção a algum público a ‘abater’ como muitos estudiosos, assim, o entendem.
Por conseguinte, os comportamentos contraditórios ou aversos são habituais em agressores, ofensores e manipuladores que intencionam accionar de forma diferente que se esperava deles. De facto, os mesmos agem como se as atitudes, valores ou comportamentos das vítimas fossem insignificantes e irrelevantes.
Neste quadro tipológico, podemos, ainda, acrescentar as agressões físicas que, embora, sob a forma de ameaça e sem concretização directa, constituem violência emocional.
‘Não estaremos obliterados perante uma demonstração evidente?’
Ana Ferreira

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sexta-feira, janeiro 04, 2008

China lança 1ª Plano contra Tráfico Humano

A China lançou, em Dezembro, o seu primeiro Plano contra o Tráfico de mulheres e crianças. Aplicado entre 2008 e 2012, o projecto visa circunscrever o fenómeno e evitar que, anualmente, um milhão de crianças continuem a ser sequestradas para fins de exploração sexual e laboral. Durante os próximos quatro anos, as autoridades chinesas vão intensificar o combate ao tráfico ilegal no mercado de trabalho; os portos, as estações e os aeroportos serão fiscalizados; e as vítimas de tráfico terão acesso aos serviços de terapia de reabilitação.
A China é um pólo de envio, trânsito e recepção de vítimas de tráfico humano.
As mulheres e crianças chinesas são traficadas para fins de exploração sexual e laboral para a Malásia, Tailândia, Inglaterra, EUA, Austrália, Europa, Canada, Japão, Itália, Singapura, África do Sul e Taiwan. Para além de emissor, a China é também um país de trânsito de vítimas provenientes da Tailândia e Malásia para casamentos forçados, adopção ilegal, exploração sexual e trabalhos forçados. A China constitui, ainda, um pólo receptor de vítimas vindas da Mongólia, Coreia do Norte, Rússia, Vietname, Ucrânia e Laos.
Tráfico de mulheres e crianças no interior da China:
Anualmente, entre dez e 20 mil vítimas são traficadas no interior da China, a maioria das quais, mulheres e crianças provenientes das regiões mais desfavorecidas. Causas? O acelerado crescimento económico na costa leste chinesa e o excesso de mão-de-obra nas zonas rurais provocaram uma intensificação do fluxo migratório no interior do país, o que propiciou novas oportunidades para os traficantes. As mulheres residentes em zonas rurais são mais susceptíveis de vitimização. A escassez de jovens desposáveis – decorrente do défice do número de mulheres em relação ao de homens – aumenta a sua probabilidade de risco, acalentando fortemente o tráfico no país.

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quinta-feira, janeiro 03, 2008

Filha das inconstâncias da Vida!

'Aos 14 anos vim para a Europa. Vivia na terra e da terra, numa aldeia africana. Vivia em pobreza extrema. Vim para trabalhar e mandar dinheiro para matar a fome à minha família. Foi um homem que disse que me trazia para um país rico da Europa, onde se ganhava muito dinheiro. A minha família disse que sim – “Se é bom para ela, é bom para a família”. Era uma forma de o meu filho homem poder estudar. (...) Era uma forma de não passar tanta fome. A minha irmã também veio comigo. Ela tinha 16 anos. Ele tratou dos documentos. Mostrou os passaportes à minha família. Mostrou as viagens de avião que havia comprado. Quando tivéssemos dinheiro lhe pagaríamos todos os gastos e as trabalheiras que teve nesses afazeres. Não disse quanto, nem ninguém lhe perguntou. A minha irmã ficou numa cidade que ele disse ser de França. “ Um país muito rico onde tu ganhas o que preciso for”. Eu continuei viagem com ele. “Estamos em Espanha. Um país também cheio de promessas para o ganho do dinheiro.” Nunca mais vi a minha irmã. Fui posta numa casa com outras raparigas. Todas nós éramos muito novas. Éramos 17. Era uma torre com vários apartamentos. Não conhecia ninguém! Eram raparigas que me pareciam assustadas e indiferentes. Não compreendia a palavra delas, nem elas a minha. O primeiro cliente tinha, penso, 40 anos, não sei bem. Fechadas num quarto todo vermelho, cama redonda, espelhos onde eu me olhava como se eu fosse muitas. Homens também eram muitos e todos iguais. Obrigou-me a despir. E fez tudo, mas tudo o que quis de mim. Chorei, gritei, implorei. Nada. Ele foi indiferente. Indiferente não. Sorria e os olhos brilhavam. Eram de vidro pensei. Estive lá um ano. Veio o homem “amigo”, o da minha terra. Implorei-lhe que me levasse dali. “Ainda me deves dinheiro”. Sorriu, pensei que com carinho... Eu pago tudo o que devo, mas leva-me contigo. “Vamos para Portugal”, prometeu. Entregou-me a outro homem que numa carrinha fechada andou muito tempo. Não sabia se já era dia. Não, não sabia. Fui novamente para um andar. Aconteceu o mesmo que no outro lugar que se dizia Espanha. Estive lá três anos. Todos os dias, todas as semanas, o tempo sem horas. Veio outro homem que me levou de lá numa carrinha, outra fechada, e que me despejou com mais cinco numa rua de Lisboa, disse-me, depois, uma mulher que fui encontrando nos dias futuros. Até que enfim estava na rua, a agarrar o ar, o vento, a chuva, o frio, o calor. Já não era o mesmo ar de homens, que agarravam o meu corpo preto, com cheiro a perfume e com olhos de vidro cobiçando o fazer de prazeres arrancados de mim. A água da chuva lavava-me a alma, ensopava o meu corpo. Inspirava profundamente o cheiro da terra, o cheiro do ar, voando para a terra do meu lugar distante em lembranças passadas nos meus tempos de infância... Como fugir desta carrinha que me levava de uma casa para a rua, e da rua para a casa? Eu era outra. Acordava de noite com pesadelos de morte. Os meus mortos perseguiamme vivos, esses seres errantes apontavam-me o fogo purificador que me queimava a carne e a alma. Deixava-me ficar transformada em cinzas que penetravam a terra e que lhe dava vida. Eu renascia das cinzas e voltava a ser uma mulher de 14 anos purificada no Ser do meu filho que ficou na terra esperando por mim. Mas eu não voltarei. Serei morta. Contar na minha terra o que eu fazia na Europa do sonho africano não tinha perdão. “Se não fizeres isto conto à tua família e a todos os da tua aldeia”. O terror é de tal tamanho que não sei falar em palavras. Estou num lugar estranho. Sou estrangeira, preta, deambulando numa rua para traz e para a frente, indo com homens, recebendo dinheiro sem saber porquê. Hoje não me vendo. Alguém me ajudou sem medo dos homens que me metiam medo. Devolveu--me à terra deste país estrangeiro, onde sou preta, estrangeira. Cheiro o cheiro da terra, da água que rega esta terra onde crescem árvores plantadas por mim, flores, sebes, jardins. Mexo e remexo na terra que me entra no ser e me purifica. Afinal em terra estrangeira, uma preta estrangeira encontrou um lugar, onde a terra lhe foi devolvida e a dignidade lhe foi concedida. Sonho, sonho sempre que o futuro está a vir. Há-de vir toda a minha família para esta terra estrangeira para não passar fome e onde o meu filho homem há-de estudar. Eu não posso voltar.'
' Preta e Estrangeira…./ Não posso voltar ….' in www.oninho.pt
Transcrito por:
Ana Ferreira

Qual liberdade de imprensa?

O ano de 2007 despediu-se. De copos na mão, muitos celebraram a entrada em 2008, com gáudio e sorrisos estridentes. Desejos, expectativas, resoluções e planos perfilharam-se na última noite. No entanto, não há muitos motivos para festejar o debutar de 2008. As inquietações políticas e socioeconómicas do ano transacto não se deixaram deslumbrar pelos espectáculos de pirotecnia; mantêm-se e é difícil vislumbrar o seu término.
Olhando em retrospectiva para 2007, encontramos um ano prolixo em episódios negros: mortes, sequestros, tortura, silenciamento, despotismo, censura, abusos, violência, corrupção, os quais corroeram mundialmente actividades como o exercício do jornalismo.
De acordo com Repórteres sem Fronteiras (RSF), em 2007, cerca de 86 jornalistas foram assassinados, o que corresponde a um aumento de 244 por cento em apenas cinco anos. Além disso, registou-se a morte de 20 colaboradores dos media, 887 detenções, 1511 agressões ou ameaças, a censura de 528 meios e o sequestro de 67 jornalistas. Em relação à blogosfera, cerca de 37 bloggers foram detidos, 21 agredidos e 2676 sites encerrados ou suspensos.
O Iraque foi o país onde morreram mais jornalistas (47), seguido da Somália (8) e Paquistão (6). Não obstante a pressão de organizações como os RSF, a maioria dos perpetradores destes deliberados homicídios fica impune, sob a égide de governantes hipócritas.
Em relação ao número de detenções, o Paquistão ocupa a posição cimeira com 195 profissionais detidos, seguido de Cuba (55) e do Irão (54). A China mantém 33 jornalistas presos e Cuba cerca de 24, ambas consideradas as duas maiores prisões do mundo para os profissionais dos media.
Refira-se, ainda, o sequestro de, pelo menos, 67 profissionais dos media, num conjunto de 15 países. O Iraque mantém-se como a zona mais perigosa, onde 25 jornalistas foram raptados, dos quais dez terão sido executados. Actualmente, cerca de 14 jornalistas se encontram como reféns no país.
Países como a China, Birmânia ou Síria renitem em limitar o acesso à Internet, visando converter a Web numa Intranet, isto é, numa rede destinada a intercâmbios no interior do país, somente acessível a pessoas autorizadas.
Liberdade de imprensa? Qual liberdade de imprensa?!

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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Sobre o Feminismo

A coordenadora do Grupo ‘Mujer y Sociedad’ e colunista do jornal ‘El Tiempo’, Florence Thomas, quer ‘entender porque existe um ódio quase endémico em relação ao feminismo e às feministas’. Para ela, mais difícil do que compreender o antifeminismo vindo de homens – ‘que durante muitos séculos gozaram dos benefícios de uma cultura patriarcal que os colocou num lugar privilegiado em relação ao poder’ –, é encontrar uma explicação que justifique o antifeminismo de muitas mulheres.
Partilhando da inquietação de Florence Thomas, confesso que me exaspera fundamente o desinteresse e a depreciação ostentados por mulheres e homens em relação ao feminismo. Encoleriza-me o enraizamento profundo de ideias erróneas e preconceitos acerca do movimento e dos seus apologistas, que pululam até nas mentes mais esclarecidas. Deploro o questionamento obstinado da existência do feminismo na actualidade ou, como outros crêem, a sua circunscrição somente a determinadas áreas geográficas. Perante tais insolências, os meus argumentos subscrevem unicamente a premência do ser, pensar e agir feministicamente, hoje e amanhã, aqui e em qualquer outro lugar. Por outras palavras, o Feminismo, enquanto movimento congregante de diversos feminismos, desempenha um papel absolutamente capital: peleja contra a cegueira, hipocrisia e indiferença que saciam o ‘senhor’ e o ‘vassalo’ do século XXI; apologiza a concessão de iguais direitos e responsabilidades entre os géneros; despoleta a mudança e o bem-estar, definhando as arestas da desigualdade e injustiça.
A maioria das mulheres ocidentais tem, hoje, a possibilidade de votar; de aceder ao sistema de ensino; de contrair casamento sem se tornar, do ponto vista legal, propriedade do marido; de utilizar contraceptivos; de viajar livremente; de exercer a profissão que pretendem; porque houve mulheres e homens que pugnaram arduamente para alcançarem tais propósito. Olympe de Gouges, Mary Wollstonecraft, Lucy Stone, John Stuart Mill, Susan B. Anthony, Elizabeth Cady Stanton, Celia Sánchez, Emmeline Pankhurst, Emily Davison, Rosa Luxemburg, Simone de Beauvoir, Anna Maria Mozzoni, Katti Anker Møller, Virginia Woolf, Betty Friedan, Kate Millett, Ana de Castro Osório, Judith Butler, Carolina Beatriz Ângelo, Naomi Woolf são apenas alguns nomes de feministas.
Num tempo em que muitos o consideram obsoleto e outros vislumbram a sua acelerada expiração, saiba-se que o Feminismo está ainda numa fase muito incipiente do seu trilho. Contam-se já três gerações de luta feminista, mas (infelizmente) a Igualdade de Género adquire contornos muito ténues nas sociedades, independentemente do seu nível de desenvolvimento. Em todos os lugares deste planeta, as mulheres são discriminadas e são-no por serem simplesmente mulheres! A luta feminista deve, por conseguinte, fazer-se com a mesma premência e intensidade que outrora até que a última limalha da segregação seja engolida, terminantemente.
Anabela Santos

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terça-feira, janeiro 01, 2008

STOP ao Cancro do Colo do Útero na Europa!

O cancro do colo do útero constitui a segunda causa de morte por cancro nas europeias com idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos. Anualmente, este tipo de cancro é diagnosticado a 50 mil mulheres, metade das quais acaba por morrer. Embora seja difícil de combatê-lo, os programas de rastreio e as infindáveis potencialidades das novas tecnologias podem prevenir em larga escala esta doença.
Todas as mulheres podem ser afectadas pelo cancro do colo do útero!
No sentido de chamar a atenção do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e de todos os Governos Nacionais da Europa, está disponível online uma petição que expõe as seguintes advertências:
· Trabalhar em conjunto na implementação de programas de prevenção para o cancro do colo do útero, de acordo com as recomendações do Conselho da União Europeia e com as Recomendações Europeias para a Garantia de Qualidade no Rastreio para o Cancro do Colo do Útero.
· Apoiar a criação de programas de educação para a saúde para assegurar que todas as mulheres estejam cientes da importância da prevenção do cancro do colo do útero e que beneficiem dos serviços que lhes são disponibilizados para este efeito.
· Facilitar a troca de boas práticas entre os países da Europa de modo a que todos possam beneficiar das melhores medidas possíveis que existem na Europa.
· Apoiar programas de investigação independentes de modo a implementar novos métodos de rastreio e vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV) para assegurar que se obtenham as maiores reduções no cancro do colo do útero na Europa.
· Reconhecer e apoiar o papel essencial e determinante das instituições de caridade, das associações de doentes, organizações não governamentais e trabalho voluntário com o objectivo de reduzir o cancro do colo do útero na Europa.
Assina a petição, AQUI!
Anabela Santos

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Para o ano de 2008 não peço mais que isto: 'É tempo de mudança e de conquista dos Direitos Humanos!'

Composição: U2

Is there a time for keeping your distance
A time to turn your eyes away.
Is there a time for keeping your head down
For getting on with your day.

Is there a time for kohl and lipstick
A time for cutting hair
Is there a time for high street shopping
To find the right dress to wear.

Here she comes, heads turn around
Here she comes, to take her crown.
Is there a time to run for cover
A time for kiss and tell.
Is there a time for different colours
Different names you find it hard to spell.
Is there a time for first communion
A time for East 17
Is there a time to turn to Mecca
Is there time to be a beauty queen.

Here she comes, beauty plays the clown
Here she comes, surreal in her crown.

"Dici che il fiume trova la via al mare
E come il fiume giungerai a me
Oltre i confini e le terre assetate
Dici che come fiume
Come fiume...
L'amore giungerl'amore...
E non so più pregare
E nell'amore non so più sperare
E quell'amore non so più aspettare."

(You say that the river
finds the way to the sea
and like the river
you shall come to me
Beyonde the borders
And the thirsty lands
You say that as a river
like river...
Love shall come love
And I'm not able to pray anymore
And I cannot hope in love anymore
And I cannot wait for that love anymore)

Is there a time for tying ribbons
A time for Christmas trees.
Is there a time for laying tables
And the night is set to freeze.

Em nome do 'Mal da Indiferença': Bom Ano de 2008!

Ana Ferreira

(anarafaelaferreira@gmail.com)

"Porque quem manda é o rei da selva"


Desde sempre, a boca da história transmitiu aos tempos e espaços, desagrado, perturbação e descontrolo disfuncional. No entanto, os grupos sociais mais vulneráveis e fragilizados, poucas “armas” de resistência e de liberdade comportam, dada a imposição do sistema social dominante e do mais forte.
Muitas mulheres, quando ingressam no mercado de trabalho sentem que o seu posto ou papel a desempenhar na Organização só está assegurado, depois de responderem ao que, com dissabor, chamo de ‘assédio sexual, moral e de poder’, por medo, falta de coragem, de informação, para garantirem pão, leite e pouco mais aos seus filhos e para, também, levarem à boca pedaços de honra ferida, por meio da humilhação.
O assédio sexual manifesta-se, deste modo, como um grave problema de consciência colectiva, sendo o tipo de coerção e constrangimento de carácter sexual, imposto por alguém (geralmente um homem) de posição hierárquica mais elevada, com o intuito de humilhar, subordinar e ofender outrém (normalmente, a mulher) na condição de dominado seja no meio académico, seja no local de trabalho. Neste sentido,o assédio sexual passa pela ameaça, humilhação, injúria e difamação da vítima em causa. No entanto, o sistema penal declarou sancionar toda a pessoa afectada por assédio sexual que seja prejudicada, pela condição de manter o seu emprego, influir na carreira de assalariamento e prejudicar o rendimento profissional.
No que concerne ao assédio moral, o mesmo expõe a pessoa a uma situação de exclusão, pressão psicológica ou moral, reiteradas vezes, durante o exercício das suas funções no trabalho.
No campo do poder, entende-se que o abuso do poder pode ser visto como o acto imposto sobre a vontade do outro, sem ter em conta o código normativo vigente. O abuso do poder está ligado, neste sentido, ao uso ilegal do poder e da autoridade, para que se possa atingir determinado propósito.
Em súmula, se é vítima de qualquer um destes tipos de assédio: denuncie, tenha cuidado, arranje provas-testemunho, não demonstre medo e não responda à chantagem.

Ana Ferreira

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sábado, dezembro 29, 2007

Justiça para as ‘damas de conforto’!

A partir da década de trinta e durante o período da Segunda Guerra Mundial, o Japão submeteu cerca de 200 mil mulheres à escravatura sexual para satisfazer os seus soldados. Eram provenientes da China, Taiwan, Filipinas, Malásia, Países Baixos, Timor Ocidental e Japão. Sem liberdade, estas mulheres – menores de idade – foram vítimas de crimes bárbaros, como a violação em grupo e abortos forçados.
Gil Won Ok, de 79 anos, é da Coreia do Norte. Com apenas 13 anos, foi levada para o nordeste da China, com uma promessa de emprego numa fábrica. Todavia, todas as suas expectativas se dissiparam quando foi enclausurada num ‘centro de conforto’, humilhada, explorada, convertida em escrava sexual. Durante este período, Gil contraiu sífilis e surgiram-lhe tumores. Foi-lhe retirado o útero, o que a impedir de alguma vez ter filhos. “O Governo japonês acredita que quando as ‘damas de conforto’ morrerem, o assunto será enterrado e esquecido. Mas, enquanto a nossa geração o souber, jamais cairá no esquecimento”, afirmou Gil Won Ok, perante o Parlamento Europeu.
Ellen van der Ploeg, de 84 anos, é dos Países Baixos. Aquando da eclosão da Segunda Guerra Mundial, vivia na actual Indonésia com a sua família. Entre 1943 e 1946, Ellen percorreu cinco campos de refugiados, nos quais foi violada reiteradamente. Foi levada pelas forças imperiais japonesas para um ‘centro de conforto’, onde foi duramente subnutrida e sexualmente explorada.
Menen Castillo, de 78 anos, nasceu nas Filipinas. Aos 13 anos, foi raptada pelos soldados nipónicos e levada para a sua escola, que fora convertida num quartel militar e num ‘centro de conforto’. Durante quatro dias, foi violada repetidamente, regressando a casa traumatizada e doente.
Recentemente, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução no sentido de exigir a responsabilização do Governo nipónico e a indemnização das ‘damas de conforto’ pelas atrocidades contra elas cometidas. Humilhadas, envergonhadas, isoladas, doentes e, em muitos casos, mergulhadas na pobreza extrema, as sobreviventes deste abominável sistema de prostituição mantiveram-se em silêncio durante quase seis décadas mas, agora, exigem JUSTIÇA.
No passado e na actualidade, a violência sexual constitui, simultaneamente, um instrumento e uma consequência de guerra. Quando é que os intocáveis ‘senhores’ e ‘vassalos’ percebem que a belicosidade das suas decisões e actos apenas semeia a erosão e destruição material e humana? They disgust me!
Anabela Santos

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sexta-feira, dezembro 28, 2007

Quando for grande quero ser prostituta!

No dia-a-dia o termo “prostituta” ou prostituição é corrente mas na verdade o tema é pouco discutido. Entendo por discutido, um debate sério onde pudesse existir uma troca de ideias, de argumentos, enfim a análise da situação actual. Não me estou a referir a prostituição forçada (mesmo se para mim ela nunca é de total liberdade de escolha) nem de tráfico humano mas sim de prostituição de interior e de rua.
Assim existem duas visões actuais: a visão mais comum é de que as prostitutas exercem a actividade por querem, ou então a visão que nega a prostituição como profissão e considera a prostituta como uma vítima da sociedade, impossibilitada de sair daquele mundo em que entrou por desconhecê-lo.
A primeira posição leva a regulamentação da actividade, porque se a prostituição é vista como uma opção, torna-se assim uma profissão e como todas as profissões deveriam existir o pagamento de impostos como todos os trabalhadores. Assim tornava-se uma actividade legal, melhorava as condições de vida e de higiene das prostitutas, e aumentava a segurança ao deixar de ser clandestino. Vários países adaptaram este sistema reconhecendo-lhe méritos no combate à transmissão de doenças e as redes ilegais da prostituição.
A segunda posição é o abolicionismo que nega esta ideia de prostituição como um emprego. A prostituta é vista como vítima da actividade, por isto este sistema visa a erradicação desta actividade.

A minha opinião era claramente a segunda, sempre vi a prostituição como uma violência, não conseguia conceber que alguém de livre e de espontânea vontade decide enveredar para o mundo da prostituição. Parece que me enganei, ou não? Se de facto tomei consciência que vitimava demasiado as pessoas que se dedicavam a esta actividade, por outro lado só consegui contactar pessoas que integravam a prostituição de interior, e não de rua, e são dois mundos completamente distintos. Assim a prostituição surgia como “escolha”, no entanto houve claramente toda uma condicionante familiar, uma falta de apoio, e uma dificuldade financeira. Assim ainda acredito que a maior parte daquelas que dizem ser prostitutas por opção, não o são de verdade, assim devido a dificuldades de todo o tipo, e com a tentação ou a necessidade de dinheiro rápido a prostituição tornou-se uma “solução”. Depois existe o grande problema da rotina que se instala com o tempo e cada vez se torna mais difícil conseguir mudar de vida. Para quem se habitua a ganhar muito dinheiro, a visão de oito horas de trabalho para um salário de miséria não deve ser muito agradável, e penso que se convence que o que fazem é de facto uma profissão.

Por isso mantenho a minha posição, prostituição é tudo menos uma escolha (é falta dela), é tudo menos uma profissão. Não parece que alguém sonhe nem ambicione exercer esta actividade. Questiono se alguém já ouviu esta frase: “Quando for grande quero ser prostituta?”; “espero que a minha filha tenha sucesso na prostituição”; De facto não ouvem, porque simplesmente esta actividade nunca vai poder ser considerada profissão, e nunca se vai tornar legal aos olhos da sociedade. Estou pronta para ouvir as maiores critica mas por minha parte não posso considerar a prostituição como um trabalho. Alguém achava normal perder o subsídio de desemprego por recusar uma proposta de emprego na prostituição? Estamos preparados para conviver com ofertas de emprego do tipo: Procura-se prostituta/to para…? Qual será a idade mínima para ser prostituta/to? Essa profissão seria dirigida por cada um, ou existiria a atribuição de salário? Por parte de quem? Seria também legalizada a figura do proxeneta, reconvertido em patrão?
Para mim a prostituição será sempre uma exploração e deviam existir medidas que reprimem o proxenetismo, este sim condenável. Devia existir uma mudança de opinião das pessoas que praticam esta actividade, um olhar mais compreensivo, uma mudança de mentalidade e politicas de apoio, mas para mim isso não possa pela regulamentação da prostituição. Para mim legalizar a prostituição é legalizar a exploração, é uma forma de escravatura, é dar trunfos as redes organizadas de prostituição e de tráfico de mulheres. A legalização seria uma bem triste solução para a nossa sociedade que apesar de evoluída não conseguiu encontrar outra forma para terminar com a conhecida “mais antiga profissão do mundo”.



Sylvie Oliveira
SylvieO6@hotmail.com

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Movimentos sociais nos media

Que cobertura jornalística os media fazem dos movimentos sociais, particularmente, do Movimento de Mulheres? É justamente a esta questão que o artigo ‘Winning Coverage: News Media Portrayals of Women’s Movement, 1969-2004’, da autoria de Maryann Barasko e Brian Schaffner, visa responder por meio de uma análise comparativa do New York Times e dos noticiários da noite dos canais de televisão ABC, NBC e CBS, iniciada no ano de 1969 até 2004.
Destacando a importância dos media no empolamento dos acontecimentos e na formação das percepções individuais e colectivas, o estudo revela as dificuldades que os movimentos sociais têm em concentrar a atenção da comunicação social. A mediatização das suas reivindicações e acções permite-lhes obter um maior sucesso, pois têm mais hipóteses de granjear apoiantes e abreviar a consecução dos seus objectivos. Mas, para isso, têm de jogar com os interesses dos media, ou seja, apelar ao seu sentido de noticiabilidade, actuando, por exemplo, de forma a causar impacto ou conflito.
Em termos de frequência da cobertura jornalística, o New York Times deu mais cobertura aos projectos do Movimento de mulheres que os noticiários da noite dos três canais televisivos. Este facto remete para uma diferença essencial entre a televisão e a imprensa: embora a primeira seja capaz de cobrir os acontecimentos mais importantes do dia, a imprensa confere uma maior amplitude de cobertura. Por isso, o Movimento de mulheres tem mais hipóteses num jornal do que num noticiário. A cobertura efectuada pelo New York Times diminuiu a partir de 1976, atingindo o seu ponto mais baixo na década de 90. Desenhou, contudo, um ligeiro aumento no limiar do século XXI. Por outro lado, a cobertura realizada pela televisão foi estável, registando o ponto mais elevado nos anos 90. É também a partir desta década que se inicia o declínio da cobertura televisiva do Movimento de mulheres.
No que concerne aos assuntos objecto de cobertura jornalística, a igualdade de género foi a questão mais frequentemente abordada na imprensa e na televisão, seguida do aborto e dos direitos reprodutivos. Estes últimos foram mais valorizados pela televisão do que pelo New York Times. O interesse dos media pela questão do aborto explica-se pelo facto de encerrar em si controvérsia, conflito e debate.
Retirou-se, ainda, uma última ilação: a existência de um desfasamento entre o movimento nos media e o movimento entre as mulheres. Uma das temáticas do Movimento de mulheres norte-americano mais frequentes na imprensa e na televisão foi o aborto. A sua intensa cobertura fez crer que o Movimento de mulheres apenas destacava este tema, quando, na verdade, a sua agenda apresentava inúmeros outros cuja mediatização era igualmente por ele valorizada. Um corolário decorrente da intensa focalização dos media no aborto e, conseguinte, obliteração dos restantes temas é a deturpação das prioridades do Movimento de mulheres por parte da sociedade, designadamente pelas mulheres. Criticaram o Movimento das mulheres por não sublinhar adequadamente a temática da família. No entanto, esta questão constituía uma das suas maiores preocupações; o problema residia no facto dos media não o cobrirem. O público, vendo mais frequentemente as organizações feministas a debater a igualdade de género e o direito ao aborto nos meios de comunicação social, não tinha essa percepção – a agenda do Movimento de mulheres era muito mais diversa do que aquela que os media difundiam.
E, em Portugal, que cobertura jornalística detêm os movimentos sociais?


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quarta-feira, dezembro 26, 2007

Sobre a ‘Draupadi’

Draupadi é o nome da princesa do Hindu épico de Mahabharata. Draupadi é também a designação de um execrável e pululante fenómeno na sociedade indiana: a comercialização de mulheres vendidas pela família para casamentos forçados. Em inúmeros casos, estas mulheres não se casam legalmente. Elas são vendidas e mantidas como escravas domésticas, sendo obrigadas a ter relações sexuais com o marido e com os seus irmãos solteiros ou outros familiares. Grande parte das mulheres vítimas de tráfico vem das regiões mais pobres da Índia para o Norte do país, onde a selecção pré-natal do sexo e o infanticídio feminino provocaram um défice do número de mulheres em relação ao de homens. Por exemplo, em 2006, nasceram apenas 861 meninas para um total de mil rapazes na região de Haryana. A preferência por crianças do sexo masculino, a desvalorização da mulher na sociedade e o acesso facilitado a práticas como o feticídio e infanticídio agudizam a realidade demográfica da Índia.
Anabela Santos

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terça-feira, dezembro 25, 2007

Quando a gravidez mata…


A cada segundo, minuto e hora, ciclos de vida dissolvem-se nos meandros das hipócritas sociedades da hodiernidade. Refiro, designadamente, aos milhões de mulheres que perdem a vida na gravidez ou no parto.

Anualmente, mais de 500 mil mulheres morrem devido a complicações surgidas no período de gestação, o que representa mais de 10 milhões de mulheres num espaço de uma geração. Todos os anos, mais de um milhão de crianças ficam órfãs de mãe devido à mortalidade maternal. Hemorragias, infecções, abortos praticados em condições insalubres e ataques são as principais causas de mortalidade materna.

A taxa de mortalidade materna é reduzida nos países industrializados, bem como se manifesta em decréscimo na Ásia de Este e América Latina. Contudo, no continente africano e no Sul da Ásia, as complicações surgidas durante a gravidez e o parto constituem a principal causa da mortalidade feminina.

· Contracepção e aborto:
Inúmeras vidas poderiam ser poupadas se a distribuição e o acesso a meios de contracepção eficientes fossem assegurados. Anualmente, cerca de 68 mil mulheres morrem por causa de abortos praticados em condições medíocres. Grande parte dos problemas decorrentes de abortos poderia ser evitada se as mulheres dispusessem de contraceptivos eficazes.

· Assistência médica:
A nível mundial, somente 62 por cento dos partos têm assistência médica qualificada. Nos países desenvolvidos, a maioria das mulheres usufrui de acompanhamento especializado. Nos países em desenvolvimento, a taxa é de 57 por cento. Nos países menos avançados, a taxa desce aos 34 por cento. As mulheres que sofreram infibulação – forma extrema de mutilação genital feminina –, são mais vulneráveis à ocorrência de complicações durante e após o parto.

· Faixa etária mais vulnerável:
As jovens com idade compreendida entre os 15 e os 20 anos têm maiores probabilidades de morrer durante o parto que as mulheres com idade entre os 20 e 29 anos. Menos de 20 por cento das jovens sexualmente activas em África recorre a métodos contraceptivos.

· Direitos femininos:
A redução da taxa de mortalidade materna é somente conseguida através da universalização do acesso a métodos contraceptivos, a acompanhamento médico especializado durante a gravidez e o parto e a cuidados de obstetrícia.
A taxa de mortalidade materna correlaciona-se negativamente com a condição da mulher na sociedade. Quanto mais elevado e reconhecido for a posição da mulher, menor será a taxa de mortalidade materna e vice-versa. O casamento precoce, a mutilação genital e as gravidezes não desejadas decorrentes de abusos sexuais mostram o quanto a mulher não tem autonomia sobre o uso do seu próprio corpo.


Anabela Santos

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Imigração clandestina: discernimentos!


Desde sempre, a imigração clandestina foi notícia nos media, nacionais e internacionais, elucidando para a condenação ou morte de seres humanos que se vêem obrigados, pelas inconstâncias da vida, a se amontoarem em embarcações, com olhares confusos, perdidos e sem destino, entre a terra e o mar.
Efectivamente, muitos imigrantes clandestinos identificados pela pobreza, fome, guerra, dificuldades económicas sentidas pelo fechamento das oportunidades de trabalho; entraves de permanência no país, pela implementação assimétrica de políticas públicas e sociais; intolerância religiosa, política e de “cordialidade” entre o Estado e a Sociedade Civil; ficam persuadidos por países que gozam de um conjunto de políticas promissoras para um maior equilíbrio ou estabilização nos campos religioso, económico, moral, político, social, entre outros.
Em contrapartida, este movimento ou fluxo dinâmico exige, enquanto acção necessária para a mudança social e evolução social, uma rede social, em cadeia, impelida, em termos teóricos, pela descriminação sexual, racial e laboral e em termos metodológicos, pelo príncipio holístico que analisa cada fenómeno, de cariz social, como a acção, atitude e crença que envolve cada actor social num todo. Assim, a garantia dos direitos de cada Homem, a condição criada para a manutenção da identidade de origem, em negociação com a identidade adaptativa; a acomodação a um conjunto de leis dignas, justas e coerentes são alguns dos aspectos nevrálgicos na tomada de decisão dos órgãos governamentais no combate à imigração clandestina e ao tráfico de mulheres.
Na realidade, em cada ano que passa são transportadas entre 600.000 a 800.000 mulheres para outros países que não o seu de orientação, clandestinamente. De acordo com as estatísticas, 80% dos seres humanos transaccionados dizem respeito a grupos mais vulneráveis como é o caso de mulheres, sabendo-se que até 50% são negociadas, estrategicamente, crianças. As estatísticas enunciam, ainda, que nos últimos 40 anos migraram tantos homens quanto mulheres, não obstante a mobilização das mulheres comportar fins lucrativos, para empregadores conhecedores da economia paralela, com esquemas pré-meditados.
Seria, assim, no mínimo, desejável encontrar uma solução para um problema que comporta danos irreparáveis sobre a pessoa humana, na medida em que grande parte destes imigrantes se sujeitam a graves problemáticas sociais tais como: racismo, sexismo, escravidão, entre outras.
Ana Ferreira

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Repressão contra apologistas dos direitos humanos no Irão

Milhares de mulheres e homens, sob represálias, ameaças, maus-tratos e tantas outras coacções, digladiam diariamente no terreno em defesa dos direitos humanos. Desafiando ditames políticos e religiosos, dedicam as suas vidas a projectos que visam erigir uma nova sociedade, estribada no respeito pelas identidades individuais. Todavia, incorrem em riscos que colocam em perigo a sua segurança. Foi, precisamente, o que aconteceu a Jelveh Javaheri, jornalista e apologista dos direitos humanos, que fora presa no início de Dezembro, em Teerão. Javaheri é membro activo da Campanha pela Igualdade, que visa recolher um milhão de assinaturas para exigir o banimento de leis discriminatórias do sistema legislativo iraniano. Considerada ‘una persona non grata’, a jornalista foi acusada de ‘perturbar a opinião pública’, ‘propaganda contra o sistema’ e ‘publicação de mentiras’ na Internet. Com um longo percurso na proclamação dos direitos femininos no Irão, Jelveh Javaheri foi detida por diversas vezes, mas nunca desistiu.
A Amnistia Internacional considera-a uma prisioneira de consciência e emitiu já um comunicado a exigir a sua libertação ‘imediata’ e ‘incondicional’.
A repressão de activistas envolvidos na Campanha pela Igualdade intensificou-se nas últimas semanas. Ronak Safarzadeh e Hana Abdi foram detidas na cidade de Sanandaj, sem a possibilidade de contacto com a família ou acesso a advogados. Os nomes sucedem-se e as histórias, por vezes sem um final feliz, multiplicam-se sem o vislumbre de um tão almejado decréscimo.
Actua! Passa por aqui.
Anabela Santos

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sábado, dezembro 15, 2007

Faça o teste de prevenção à violência!


A vitimização, apesar de ter ganho uma maior visibilidade, em termos sociais, revela-se como tolerante, aos olhos da sociedade e da família, ao terem criado condições para camuflar situações de conflitualidade e de violência, simultaneamente, pela estratégia da aparência de que o amor, o afecto e a protecção se fazem sentir, por completo.
No entanto, são várias as caraterísticas que descrevem o fenómeno da violência doméstica e os actores sociais que o vivenciam, de perto ou de longe.
Assim, segue-se uma sequência de questões às quais cada cidadão deverá responder, introspectivamente.
Fica a deixa: Desenvolva uma atitude activa informada, visando a prevenção de crime de violência ao nível familiar e comunitário.

1. Alguma vez fui vítima de agressão em casa ou na rua ou cometi este tipo de comportamento?

2. Já insultei, ameacei, humilhei, persegui ou fui insultado(a), ameaçado(a), humilhado(a) e perseguido(a)?

3. Tenho sentimentos de fobia, insegurança, desespero em relação a alguém ou a mim mesmo(a)?

4. Tenho receio da reacção ou comportamento dos outros, quando me aproximo deles ou sinto que os outros sentem o mesmo, quando se aproximam de mim?

5. Por vezes, faço coisas que vão contra os meus príncipios, valores e regras ou em sentido inverso, sinto que os outros agem em meu favor, reduzindo ou alterando o seu código normativo e valorativo (simbólico), de uma forma extremada?

6. Submeto-me às imposições de outrém ou vice-versa?

7. Acredito em mitos populares e esses entram, sempre, em linha de conta nas relações que estabeleço com a minha família e comunidade?

8. Nego os outros só pelo facto deles não opinarem da mesma forma que eu?

9. Culpo-me, frequentemente, por qualquer tipo de comportamento ou decisão tomada e também tendo a culpabilizar os outros?

10. Sinto-me obrigado (a) a viver em família? E em sociedade?

Se é vítima de algum crime recorra às estruturas de atendimento e acolhimento personalizadas, a mencionar: CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género), AMCVD (Associação de Mulheres contra a Violência), APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) e UMAR (União Mulheres Alternativa e Resposta).
Ana Ferreira

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Campanha por Darfur

Os actores de Hollywood George Clooney e Don Cheadle foram hoje galardoados pelos prémios Nobel da Paz pela campanha que desenvolveram a favor da região do Darfur, no Sudão, que está em guerra há mais de quatro anos.

Juntamente com Brad Pitt, George Clooney e Don Cheadle, protagonistas do filme “Ocean´s Thirteen”, usaram o seu estatuto de celebridades para arrecadarem dinheiro para os refugiados do Darfur.
Através do lema “Not On Our Watch”, tentaram que esta causa não fosse esquecida.De acordo com as estimativas pelo menos 200 mil pessoas morreram e 2,5 milhões foram deslocadas no conflito entre não árabes contra o Governo de Cartum e as milícias árabes, a decorrer desde 2003.

As restrições impostas por Cartum à entrada de 26 mil soldados da paz das Nações Unidas também colocaram sérios entraves à resolução do conflito.Na cerimónia de entrega do prémio, que decorreu em Roma, também estiveram presentes o presidente soviético Mikhail Gorbachev e Dalai Lama.

“A verdade é que quando falamos das atrocidades cometidas no Darfur percebemos que aquelas pessoas não estão melhor agora do que há uns anos. Os assassínios continuam, os raptos continuam e os 2,5 milhões de refugiados ainda não têm casa”, disse Clooney.

O actor acrescentou ainda que “um dia tudo isto acabará quer o possamos presenciar ou não. E quando escreverem sobre isto será colocada a seguinte questão: Onde esteve o resto do mundo? E a resposta será: O Darfur apenas não era uma prioridade”.

Cheadle, que esteve nomeado para um Óscar pelo seu papel em “Hotel Rwanda”, um filme que fala sobre o gerente de um hotel que luta para salvar vidas durante o genocídio de 1994, afirmou que o prémio foi “uma inspiração para seguir com a luta”.

Já no princípio deste ano Clooney, Cheadle e Pitt tinham conseguido juntar quase 700 mil de euros no festival de Cannes, destinados à causa do Darfur. Para além disso, os dois primeiros participaram no recente documentário sobre o conflito intitulado “Darfur Now”.

( Público, 13.12.2007 - 16h34 Reuters )

"Não deixe que a Pobreza se transforme em paisagem"

www.istoincluime.org.

Parceria: ANIMAR / APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) / Cruz Vermelha Portuguesa / FENACERCI / REAPN / Instituto da Segurança Social, IP

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Rasgos e ritmos lesivos!


Vagueam entre o acaso e o ocaso, intensificam-se na esfera da frustração humana - a inquietação do espírito, a intolerância, o refreamento, a censura, o egocentrismo. Este cenário ocupa a vida de todos nós, afectando todo o sistema social, mais particularmente as relações sociais e humanas de cidadania, pundonor, alteridade e respeito à diferença.

A sociedade hodierna não passa de um caleidoscópio manifesto de desavenças, conflitos, guerras e violência. A sociedade de hoje é uma autêntica “clínica psiquiátrica” de modelos autoritários, repressivos e de arguidos consagrados em cada sepultura sem memória! A sociedade de ontem, de hoje e de amanhã continuará a implementar modelos corporativos, hitlerianos, salazaristas e outros, consagrados entre o exército e a prisão; ridicularizando, mais uma vez, em cada tempo e espaço, o papel de cada inocente, o testemunho de cada vítima, o direito à manifestação justa e digna. Assim, a violência comporta uma tonalidade e textura lineares, continuadas e para sempre presentes, fortificando campos de batalha entre o povo e a elite. Repugna-me, tumultua-me, incita-me, insurge-me!

O príncipio da contradição interroga a tortura do espólio arremessado dos mais vulneráveis, em contextos de subtracção, submissão e miserabilismo. São i(e)migrantes discriminados pela conduta da limpeza étnica, são idosos excluídos pela rectaguarda em lares sombrios e sem medidas justas, são explorados e manipulados trabalhadores-diligentes, são mulheres sofridas pela crueldade barbara, são sujeitas crianças às sequelas da sinistralidade. São para sempre as raízes mortas!

De facto, a violência dissemina todo o Planeta, todo o corpo colectivo, todo o sistema social vivo. As pró-exclusões não têm fim e as reacções do colectivo continuam a estigmatizar a possibilidade de ser construída uma nova cartografia da história das sociedades.

Porque o príncipio da alma está no enriquecimento da fome, da epidemia, da pobreza, da negociação ilícita, do abuso humano, social e ambiental; da violação dos tempos de mudança; da inclusão dos condenados. No mínimo, pérfido!

A dinâmica real não passa, deste modo, de uma teia holística de problemáticas que bloqueiam a homeostasia social e humana!


Ana Ferreira

quinta-feira, dezembro 13, 2007

A VAGINA

Deambula entre a idolatria, o desdém e a repulsa. O seu valor metamorfoseia-se consoante o dia, o lugar e o berço religioso. Define um corpo, um sexo, um género, um humano. Da sua boca, cospe palavras de revolta. Desde a tenra idade, conhece as gélidas correntes que a prendem à submissão. Pesam sobre os seus ombros, reprimem o seu movimento em direcção à vanguarda. Querem-na destituída, susceptível, lacrimosa para curvá-la diante do espelho onde se vislumbra um só vulto: o Falo. Ela resiste, em cativeiro, nas muralhas do tempo. Mas, em subterfúgios da boa moral, os Malfeitores prorrogam a sua libertação e, dissimulados, estraçalham a cartilha dos seus Direitos. Engalanados com sumptuosas vestes, no seu púlpito, aplaudem as barbáries contra ela cometidas. Poucos ousam interromper o espectáculo. Os aplausos continuam, a plateia, inconsciente ou não, mostra assentimento. As cenas reiteram-se: venda, tortura, agressão, mutilação, estupro, extermínio. O palco adquire tons de escarlate, outrora símbolo de voluptuosidade, agora de dor, muita dor. Desenhando no rosto a pungência das cenas que deslizam perante os seus olhos, os espectadores permanecem calados, imprevisíveis. Os Feitores do Mal, tantas vezes enaltecidos, acenados e galardoados por quem desvaloriza a contundência dos seus ditames; regozijam-se a cada fuga, a cada grito. Do seu pedestal, acariciam os seus anéis e, ao mesmo tempo que bebem mais um gole de whisky, ouvem o gemido de uma mais vagina, enxovalhada e impelida para a morte. A cortina fecha-se. O espectáculo terminou. Reinicia-se dentro de escassos minutos, com uma nova protagonista, com igual desfecho. Porque a vagina é poluta, pecaminosa, repugnante. A ela se reserva meramente o direito a subalternizar-se e a obedecer, cegamente. O seu aniquilamento, fim último dos Malfazejos, tem a estriba no “vaginocídio” – axioma do sexismo, misoginia, machismo e falocracia – que fede ora latente, ora manifestamente. Pulula, irradia, prolifera, insufla, granjeia, estonteia, impregna, imiscui-se, penetra, suga, domina, perpetua-se e engole-nos na atrocidade da sua natureza. O “vaginocídio” nutre-se da putrefacção do âmago humano, malogra sonhos, corrompe quem, por mero acaso ou infortúnio, possui um clítoris em vez de dois testículos. Talvez um dia, o sol resplandeça sobre o monte de Vénus e entorpeça terminantemente a força motriz desta chacina milenar.

Anabela Santos